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quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Seminário na EBPMG - Sobre o feminino e as consequências clínicas da elaboração do “não-toda”








Vamos retomar nosso trabalho proposto para esse semestre em torno do Seminário XX e concluir nosso objetivo que é de percorrer suas lições e destacar os pontos que consideramos importantes trabalhar. Sei que muito pouco foi possível fazer, mas mantive  sempre a esperança de poder instigar a cada um de vocês a fazerem um trajeto neste importante momento da elaboração lacaniana.

Há quase cinquenta anos atrás, ou seja, no início dos anos setenta, Lacan escreveu o que ele chamou de “fórmulas da sexuação”(1): “Aí se encontram inscritos, em forma de uma chicana necessária, as duas articulações lógicas determinando essa aspiração do ser falante em se contar “homem” ou “mulher” sem que, da conjunção dos termos, possa se produzir a relação sexual. A castração que a psicanálise descobriu, pode assim se desprender dos mitos que Freud lançou mão para a embalsamar, a partir de sua razão; poderemos apreciar como ela, em retorno, pode subverter, de uma lógica, as consequências totalitárias(2)."

Esse foi o programa que ele tentou elaborar com as fórmulas da sexuação e a lógica do não-toda que elas colocam em evidência. Programa esse ao qual é preciso acrescentar o que ele disse no Seminário Mais Ainda: “Chegar a produzir o novo sobre a sexualidade feminina(3)."

Podemos nos perguntar, então, porque apesar de todo os avanços da prática da psicanálise as fórmulas da sexuação ainda permanecem não valorizadas e, mais ainda, encontram uma certa resistência por parte de muitos analistas. Talvez mesmo porque a lógica utilizada por Lacan não se coadune à formalidade, fato esse tão comum no uso que Lacan faz, por exemplo, com a lógica matemática e a topologia.

Ou será, talvez, porque elas colocam em questão a teoria sexual pensada a partir do primado do falo e de uma reformulação do Édipo freudiano pela metáfora paterna, metáfora esta que muitos analistas fizeram um dogma sobre o qual apoiar sua prática?

Se, por um lado as fórmulas da sexuação não invalidam nem o Édipo freudiano nem a metáfora paterna, elas aí colocam um limite e nos obrigam a tirar consequências clínicas para a direção do tratamento.

Ou ainda, porque o não-toda, não coloca “às mulheres a obrigação de medir pelo calçado da castração o estojinho encantador que elas não elevam ao significante(4)”, dando-lhes ao mesmo tempo o privilégio de um gozo que lhe seja próprio e que pode dispensar o coito? Ou é simplesmente porque Lacan utiliza uma lógica sofisticada, a dos paradoxos, que exige de cada um querer buscar saber?

A verdade é que ter bem claro as fórmulas da sexuação exige um bom trabalho, especialmente as duas fórmulas do lado direito do quadro, aquelas do não-toda "pois sua inscrição não é costumeira na matemática(5)", como sublinha Lacan.

Mas se ele vai por aí, não será porque a prática do inconsciente lhe impôs esse caminho? Do que se trata, portanto, não é de se fazer a lógica dos lógicos, mas sim da psicanálise. Então, vamos verificar que o não-todo, é a oferta de Lacan para pensar a partir do impossível e da falha na estrutura aí onde “na medida em que o modo de pensamento é, digamos, subvertido pela falta de relação sexual, só pensa por meio do Um(6)”.

Enfim, vamos acrescentar que com essa escritura, Lacan entendeu dar conta das transformações da “vida sexual” advindas das transformações depois de Freud, aquelas que encontramos em nossa clínica contemporânea.

As mudanças da civilização que assistimos em consequência da queda dos semblantes que ordenavam o mundo até os anos 1950 e a desorganização que se entranhou no seio da sociedade implicou, mais que nunca, que pensemos “a questão do feminino” à partir da noção do “não-toda”, isso se quisermos produzir algum esclarecimento sobre os problemas femininos atuais e quais as consequências deles sobre as novas relações entre os sexos.

Vamos dar um passo a mais e trabalhar o inconsciente e o Outro sexo: a posição do feminino.

O feminino, em todos os tempos, foi e permanece uma questão para o saber(7) e, muito particularmente, para o saber analítico. Freud, de início, encontrou o feminino como um enigma, no fundo da garganta de Irma, por exemplo, ou como um furo na trama do discurso de suas pacientes e de seus pacientes. Ele foi, assim levado a fazer rapidamente a constatação que o saber inconsciente nada diz do sexo feminino. Isso porque o feminino permanece uma questão sempre a elaborar para um sujeito, qualquer um, independente de seu sexo anatômico. Isto se apresenta desta forma, em trabalho, nos tratamentos que levamos em frente e Freud, vamos lembra-lo, rapidamente tentou colocar um fim nisto.

De Freud à Lacan, do primado do falo àquele da contingência fálica, do Penisneid, ao não-toda, a teoria psicanalítica abriu um campo de investigação do feminino extremamente preciso, pois apresentou um rico e vasto desdobramento conceitual cuja especificidade é levar em conta esta “maldição sobre o sexo(8)” que Freud nunca parou de elaborar ao longo de toda a sua obra.

Isto se deve a uma falha do gozo inerente à sexualidade humana que ele percebeu e formulou desde os primeiros manuscritos a Fliess. Ele  estabeleceu essa falha do gozo em termos de castração, a partir das manifestações inconscientes que descobriu em seus pacientes, especialmente em seus pacientes histéricos. Lacan, por sua vez, radicalizou essa falta dizendo-a causada pela condição de falasser do ser humano: sua relação ao sexo está subvertida pelo simples fato de que ele fala.

Que o inconsciente se funda excluindo de seu saber o sexo feminino, isso foi o que Freud descobriu, no limite da psicanálise, escutando seus pacientes histéricos. Nós conhecemos a tese freudiana: só existe um único símbolo no inconsciente para apresentar o sexual dos dois sexos, o falo, por isso a diferença dos sexos não pode se inscrever como tal. É isso que Freud vai designar, em 1923, em termos do “primado do falo” para os dois sexos: isto vale para todo sujeito, seja ele menino ou menina do ponto de vista da anatomia. Freud será conduzido, mais tardiamente, é verdade, a tentar compreender como uma menina pode se tornar mulher, tendo o falo como única bússola.

Não podemos fazer criticas a Freud e pretender que ele não compreendeu a problemática feminina. A constante critica feita a Freud nos anos 1930 vem de Jones e da escola inglesa, ao opor a seu falocentrismo julgado inadequado no que diz respeito às mulheres, a naturalidade de uma feminilidade primária que as meninas herdariam  diretamente da mãe, o que orientaria originalmente seu desejo e seu gozo. Esta tese, absolutamente simplista, infelizmente seduziu não somente a maioria das feministas, mas também um grande número de psicanalistas, pois ela permite pensar a diferença dos sexos em termos de complementariedade, apoiando-se totalmente na biologia.

Em contrapartida, a lição freudiana nos obriga a levar em consideração que o saber inconsciente não diz tudo e, principalmente que ele nada diz do sexo feminino: este é, como tal, foracluido. É sobre esse rejeito que se funda o inconsciente.

Ora, que o inconsciente seja falocentrado faz obstáculo a que exista uma relação entre os sexos. É a esta ausência de complementariedade entre os sexos que se relaciona, em fim, a falta de gozo inerente à sexualidade humana(9). A concentração do saber inconsciente sobre o falo é, portanto, estritamente correlativa do fato de que o sexo feminino seja, como tal, rejeitado. Chamo a atenção para o fato de que o falo não se refere tanto ao sexo masculino, mas à função que aí se coloca, exatamente onde a relação entre os sexos não pode se escrever. A esse título, é o significante do sexo e sua função é de suplência, ele faz suplência à relação entre os sexos, que não existe.

Podemos resumir assim esta descoberta maior da psicanálise: no fundamento do nosso mundo, esse mundo ordenado pelos semblantes fálicos, não existem dois sexos, não existe uma mistura original, o que existe é a não relação. Tal é o real da sexuação ao qual homem e mulher tem que se haver no encontro com o outro sexo.

A tese fálica do inconsciente é assim a condição de possibilidade da existência de um mundo para um sujeito. É a resposta que lhe vem do Outro, resposta à angústia real de um “não existe” no fundamento do simbólico. É por isso que esta tese pode ser dita “verdadeira" do mesmo jeito que as teorias sexuais infantis, na medida em que ele enuncia a verdade de um sujeito que funda seu saber  com a exclusão de sua angústia de castração. Assim esta tese, tudo sendo homosexualizado, “negligência a diferença entre os sexos”, e é ao mesmo tempo universalisante pois ela sustenta a existência de um “para todos”. Nesta lógica, o pensamento se desenrola ao infinito, mas excluindo o feminino que se mantém, desde então, no lugar mesmo do que causa o pensamento. Assim, se não existe, no inconsciente, o significante do sexo feminino, não exclui dizer que o feminino, exatamente porque ele faz limite ao mundo do Um, falicamente ordenado, não coloque a questão do heteros, do que é radicalmente Outro e que escapa ao registro significante.

É por isso que, de Freud a Lacan, a questão do feminino não reenvia jamais a uma origem antes da linguagem, seja sob a forma de um “sentimento sem palavras” ou de um “arcaico corpo a corpo” mítico com a mãe, nem mesmo nos reenvia a um “imemorável" que seja como o tempo da diferença subjetiva. Ao contrário, o posicionamento lógico do feminino na determinação do inconsciente permite situa-lo ali onde, exatamente o campo fálico encontra seu limite, ali onde se encontra o espaço de um gozo que não depende do significante fálico. Ela está fora do significante. Nisto ela não é complementar mas heterogênea ao gozo fálico. Por isso Lacan o nomeou “Outro gozo” e ele designa esta parte suplementar do gozo como sendo especificamente feminino.

Ao sustentar a lógica do não-toda tal como a construiu em seu ensino Lacan desloca e ultrapassa o que guardava de insondável o termo freudiano “continente negro”, sem, no entanto, o resolver na significação fálica. Pois o enigma do feminino, tal como a histeria o demonstra emblematicamente sempre apela a um sentido a mais, ao saber do Outro ao qual é demandado fornecer o traço diferencial que diria o que é a mulher. Ora, um traço, qualquer que seja, só pode rebaixar o feminino trazendo-o sobre a significação fálica. Uma das modalidades mais comuns de negar esse impossível foi e continua sendo de rebaixar o feminino ao maternal da mãe, privilegiando assim a idéia de uma transmissão de mãe à filha aí onde se trata, para cada um(a), de inventar sua própria maneira de fazer com o furo da estrutura. A clínica testemunha com insistência a “devastação" que produz o encarceramento da questão feminina num corpo a corpo imaginário com o Outro materno. Um lugar vazio, ao contrário, supõe para ser pensada, uma lógica particular que leve em conta a dimensão paradoxal de um “não-todo”  significante, a partir do qual o conjunto do funcionamento fálico é reordenado.

Vamos agora trabalhar a questão do S(A/), ou seja do significante da falta no Outro, ao furo na estrutura.

Quando Lacan introduziu a noção do "não-todo” no saber psicanalítico, ele colocou em jogo uma forma de “fazer aparecer algo de novo sobre a sexualidade feminina(10)”. Ele o disse, explicitamente, no seminário Mais ainda: “É da elaboração do não-todo que se trata de abrir o caminho. É o meu verdadeiro assunto deste último ano e é Mais ainda (Encore) um dos sentidos de meu título. Talvez eu chegarei assim a fazer surgir do novo sobre a sexualidade feminina"

Qual é, portanto, esse novo?

Trata-se de dar conta do que Freud não pode apreender na sua elaboração tardia da sexualidade feminina: isso que, do feminino, escapa ao fálico. O que permanece não esclarecido do continente negro freudiano vai ser retomado e elaborado por Lacan em termos do não-todo, quer dizer, em termos lógicos. A primeira novidade é, portanto, a escolha de uma elaboração lógica mais apta a dar conta disso que escapa ao significante, no lugar da significação que sempre falha na mulher. Cumpre ressaltar neste ponto que esta elaboração só foi possível depois que Lacan pode ir além do Édipo, além do pai. Esta passagem aconteceu ao longo do Seminário XVII, O avesso da psicanálise. Esta passagem permitiu que a questão do feminino fosse trabalhada para além da estrutura e, como disse acima, a partir da lógica.

O termo não-todo nos diz que uma mulher - para Lacan e contrariamente à Freud - não é toda sujeito do inconsciente. De fato, ali onde ela é mulher, ela também tem que se haver com outra coisa, isso que Lacan escreveu com o matema S(A/), o lugar de uma falta no Outro, “tesouro dos significantes”, mas também o lugar do vazio de existência. Esse vazio de existência, Lacan o condensou em um aforismo tão celebre quanto provocante: “A/ mulher não existe”, que ele escreve barrando o artigo definido A/(11). O que não existe é o predicado que valeria para toda mulher, o universal feminino, as mulheres, elas existem incontestavelmente, bem entendido! A fórmula “A mulher não existe” da conta de que não existe significante do sexo feminino que responda, no inconsciente, ao significante fálico. Isto não quer dizer que o sexo feminino não tenha realidade anatómica para as meninas - sabemos muito bem quão precocemente esta realidade pode ser descoberta e explorada - mas que, para o inconsciente, o sexo feminino não existe no sentido que ele não pode ser elevado ao estado de significante como é o falo. Ele esta foracluído da estrutura.

E, por isso, Lacan fala aqui de uma “falha no Outro”. Existe uma falha no lugar onde vem se inscrever tudo o que pode se articular do significante. Esse termo “falha”, podemos entender, sem dúvidas, no sentido de “falta” pois “falha”, assim como “falta" vêem do  latim fallere, enganar. A enganação vem do falo. Lacan joga frequentemente com este equivoco.

Mas é na medida que S(A/) toma o valor do significante da incompletude (falta um significante) - que é o traço de falta de fé da verdade - que a falta aparece. Assim, o neurótico, geralmente, coloca esta falta na conta do pai. Uma mulher poderá, assim, coloca-la na conta de uma traição da mãe, na medida que é no laço maternal que ela busca sua referência. Em outras palavras, aí onde existe um significante que falta na estrutura, aí onde existe um “menos Um”, é próprio do neurótico colocar um Um-a-mais, de neste ponto suprir pela instalação de um semblante que, ao mesmo tempo dá forma ao que não existe e faz barreira ao excesso de real do gozo Outro. O pai da exceção, mas também o falo, têm essa função.

Entretanto, mais fundamentalmente, é preciso entender esse termo “falha” no sentido geológico do termo, quer dizer, de uma fratura, de uma brecha irredutível, de um buraco, que faz com que o lugar do Outro colocado em evidência pelo Édipo não exista mais e se torne inconsistente. Em Mais ainda, Lacan diz: “Eu ajuntei uma dimensão a esse lugar do A, mostrando que, como lugar, ele não se aguenta, que ali há uma falha, um furo, uma perda(12)”. Ele designa, então, o gozo feminino, este gozo que não tem correspondente no saber inconsciente, como vindo daí(13).

É por isso que no seminário Mais ainda ele elabora que “o Outro não é somente esse lugar onde a verdade balbucia. Ele merece representar aquilo com que a mulher fundamentalmente tem relação(14)”. Ele esclarece, então, que ela tem relação a este Outro na medida em que, na relação sexual, ela é radicalmente o Outro “em relação ao que pode dizer do inconsciente(15)”, quer dizer, no que diz respeito ao saber inconsciente, que ela só pode ser o Um-a-menos(16). Se ela é “Outro”, não é no sentido de exceção, mas no sentido de hétéros, ou seja, de Outro absoluto, radicalmente heterogêneo ao Um significante. Por isso Lacan diz que toda relação com a mulher, não importa o sexo anatômico, é sempre hétero.

Uma distinção importante a ser feita: “Nosso não-todo é a discordância, a ser distinguida da foraclusão (17)”.

Dizer que este gozo provém do S(A/), é dizer que ele escapa ao significante. Isto porque é um gozo que se experimenta, temos manifestações no dia-a-dia, mas ele não pode se “subjetivar”. - o sujeito é, antes de tudo, “ultrapassado”, mesmo abolido, se acreditamos na experiência dos místicos - nem mesmo se pode apreendê-lo em termos de saber. O melhor que temos é que ele pode, na relação sexual, ser “ressuscitado (18)”, deixando aquele que o experimenta entre “uma pura ausência e uma pura sensibilidade (19)”.

Assim a mulher lacaniana não tem falta do gozo, porque ela não somente está plenamente no gozo fálico como cada um, desde que seja neurótico, mas ela também tem acesso a um Outro gozo fora da linguagem que, ele, não passa ao inconsciente. Neste sentido podemos dizer que mulher lacaniana, por ser não-toda, se distingue da mulher freudiana. A mulher freudiana é, de início, um sujeito da/ou em falta: ela esta centrada sobre a privação do falo do qual é e foi objeto, e sobre a reivindicação de obter uma "compensação (20)”. É por isso que a mulher freudiana está, por um lado fixada pela insatisfação em função da perda que esta privação lhe provocou - a ponto desta insatisfação parecer ser constitutiva de seu desejo, segundo Freud - e, ao mesmo tempo, ela esta sempre em busca de um objeto que possa preencher sua falta, o filho sendo o primeiro objeto principal a ser agregado pelo seu desejo, a partir de uma equivalência simbólica, colocada por Freud: filho = falo. A mulher freudiana é, portanto, essencialmente um “ser faltante” em busca de uma compensação fálica que valha para lhe permitir suplantar o fato de que foi, originalmente, privada pela mãe do falo.

Lacan, na verdade não se opõe a isto. Existe toda uma explosão da demanda feminina que está centrada sobre o que pode servir de paliativo ao que uma mulher experimenta como falta. Mas, diz Lacan, não é tudo. Existe um “a mais(21)”, um suplemento que pode ser apreendido, não do lado do desejo, mas no gozo. 

E é preciso dizer que Lacan julgou Freud sobre esse ponto. Assim, ele pensa que se o discurso de Freud se manteve sempre à altura do registro em jogo no discurso analítico - aquele do gozo, existe uma região onde “Freud, ele diz, nos abandona(22)”, e é aquela do gozo feminino. O erro de Freud, sem dúvidas cego por esta causa fálica que ele havia descoberto no inconsciente de todo sujeito, esteja ela alojada em um corpo de homem ou no de uma mulher, foi de ter “a mesma régua(23)” fálica que vale para o homem quando se trata da mulher. Por isso ele não pode vislumbrar um registro da mulher que escapa a esta causa(24), mesmo que ele tenha procurado estar atento a um certo número de paramentos que a sexualidade feminina contrapunha a sua teoria do Édipo. Ele o reconhece muitas vezes, quando nos lembra, por exemplo, que o saber do psicanalista se arrisca parecer uma “pregação aos peixes” se ele se agarra a sua lógica edípica da castração quando se dirige às mulheres, ou ainda, quando ele confessa sua perplexidade àquela que, entre suas mais fieis amigas, não cessou sua busca do gozo feminino: A grande questão que permanece sem resposta e à qual eu mesmo jamais pude responder, malgrado meus trinta anos de estudo da alma feminina, é a seguinte: o que quer a mulher ?

É esta questão não resolvida e deixada em suspenso deste Freud, que Lacan vai encontrar, uma vez ultrapassada sua teorização da sexualidade pelo primado do simbólico, no inicio dos anos 1970 com suas fórmulas da sexuação. É por isso que Lacan vai proceder a um tipo de desconstrução pela lógica da questão freudiana, concentrando a construção das fórmulas da sexuação por um lado sobre o real em jogo na sexualidade, ou seja a ausência de relação entre os sexos e, por outro lado, sobre o que aí faz suplência da função fálica. Pode-se ver que ele está, ao mesmo tempo, mais perto de Freud.

Dizer, com Lacan, que uma mulher é não-toda, é caminhar na direção de que sua divisão de sujeito se desdobra entre uma parte onde, como todo sujeito, ela tem uma relação ao falo e uma parte onde, como mulher, ele tem uma relação ao S(A/). Pode-se deduzir que é do real, mais do que do simbólico, que uma mulher toma sua relação à castração.

Pode-se também deduzir um saber da estrutura, sem dúvidas, mais especificamente feminina: é, com efeito, da estrutura que uma mulher como não-toda é confrontada ao limite do fálico, ao limite do império do Um, pelo fato mesmo que a significação fálica não dirá jamais o que é a mulher. Assim, por ter relação enquanto não-toda a S(A/), ela sabe que o simbólico não é tudo e que o pai, como o falo, são apenas semblantes. Desde então, o mundo fálico que os condiciona é um mundo ordenado pelos semblantes.

Contrariamente a uma idéia precipitada, mas muito divulgada, o não-todo não é um todo ilimitado, um todo em perpétua expansão por não encontrar seu limite. Na verdade ele coloca um limite de uma outra forma: é o que se opõe à idéia mesmo de um todo. A partir do não-todo o limite se impõe ao fálico: ele é não-todo. Dizer que o fálico não é todo não é negá-lo, é problematiza-lo de outra forma, dando seu lugar ao Outro radical, ao que aparece como radicalmente heterogêneo ao Um significante.

Dois comentários rápidos:

Se para a mulher não-toda a experiência do limite é o fálico que coloca exatamente aí onde o significante faz falta, então esta experiência é diferente daquela da transgressão (que ela também pode fazer, de alguma forma como sujeito) sempre sustentada pela questão do interdito. A experiência feminina, ela é antes de tudo, o lado do encontro com a inexistência do Outro, o vazio sideral deixado pelo desaparecimento do Outro.

Destaquemos a incidência do não-todo na civilização. Pois, por um lado, o não-todo que se deduz da terceira fórmula: não existe um x que não seja (phi)x, faz objeção à exceção. Ele constitui, portanto, um tratamento particular do ideal. É um tratamento pela destituição. Nisto pode-se dizer que o não-todo é a posição atéia por excelência. E é por isso que, para nós, analistas lacanianos, o não-todo concerne a questão do fim de análise, qualquer que seja a posição sexuada e as escolhas de gozo do analisante. Por outro lado, se ao destituir o ideal o não-todo suprime, no mesmo movimento, a norma universal que funda a exceção, e isto sem lhe substituir um outro, ele não cria um outro universal não fálico. Assim ele se apresenta, além disto, como uma figura não segregativa e constitui uma crítica radical à “tomada em massa” dos grupos, quer se trate dos grupos onde existe a identificação ao mestre, ou grupos mais modernos onde o que reina é a identificação horizontal nos quais é o terror do conformismo que, em geral, faz a lei. Freud, no Mal estar na civilização e outros, insistiu sobre o “caráter associal(25)” das mulheres. Não se encontra isso, hoje, como um valor civilizatório. Pois o não-todo é, sem dúvidas, o último obstáculo que se opõe à estratégia em marcha da mundialização, estratégia de erradicação do héteros ao ponto do benefício do Um somente. 

Para Lacan isto produz as consequências que fazem vascilar até a teoria do sexo. Daí ele vai, com efeito, dizer que “o ser sexuado não se autoriza dele mesmo(26)”. Como melhor dizer que o ser sexuado se produz nas consequências das escolhas inconscientes de um sujeito, no primeiro plano das quais, suas modalidades reais de gozo, aquelas que experimentam no corpo, por invasão, os primeiros encontros infantis com a sexualidade? A ênfase se encontra assim colocada não tanto sobre a norma sexual, como no Édipo, mas sobre o caráter necessariamente sintomático de toda sexualidade. Se existe uma escolha inconsciente ela é, portanto, da ordem de uma escolha forçada.

Agora, pode-se dizer que é uma resposta subversiva, pois é o não-todo que coloca em causa a norma, e de uma maneira lógica e não em nome de uma contestação libertária, talvez de uma liberdade soberana.

Pois, por mais longe que um sujeito possa levar sua vontade de se emancipar e de se libertar, existe algo do qual ele não poderá se desfazer, porque ele é o efeito mesmo: ele não poderá se libertar de sua condição de falasser. Isto implica alguns entraves estruturais na sua relação ao sexo que condicionam sintomaticamente, quer dizer, singularmente, seus modos de gozo.

Para concluirmos o nosso trabalho de hoje e, também o que nos propusemos para esse semestre, proponho falar um pouco sobre o que seria uma clínica do não-todo.

Muitas mulheres confessam, no divã e alhures que, muitas vezes, têm dificuldade em se reconhecem no mundo e, mesmo que, às vezes elas não se reconhecem de jeito nenhum. Isto acontece mesmo que pareçam, com seu trabalho, sua integração, seu sucesso tanto social como privado, obter pleno gozo. Mas seria isso ao preço de sua feminilidade?, elas se perguntam. Outras parecem poder estarem aí somente de passagem, sempre estrangeiras, inclusive para elas mesmas, queixando-se que elas não sabem fazer com a economia fálica já que com elas não podem mesmo fazer nada.

No entanto, não há outro mundo que este aqui. É por isso que uma mulher pode, também, escolher consentir a se servir dos semblantes e mesmo a usá-los de tal sorte que possa gozar(27) por ela mesmo, assim como por seu parceiro, sem ceder de sua feminilidade.

É que o não-todo não implica o não do todo. Além disso, as mulheres estão no campo fálico, e mesmo “elas estão lá à toda(28)” disse Lacan, sem limitação, desde que foram liberadas das normas patriarcais que lhe foram impostas. Mas elas só estão aí.

Ao localizar o não-toda na negativa da função fálica, Lacan explicita que não temos que buscar uma natureza anti-fálica da mulher. Não é para procurar uma essência da feminilidade que a faria diferente dos outros seres humanos, dos homens. E aí, Lacan fiel à Freud, se posiciona firmemente em oposição à tendência essencial do movimento de liberação das mulheres promovido nos anos 1970 que prometiam às mulheres a existência de um “Todo não fálico” e as encorajavam a fazer existir um mundo feminino a ser produzido à partir do corpo da mãe no qual as mulheres seriam aconselhadas reconhecer sua verdadeira natureza. Conhecemos bem, hoje, a qual devastação destruidora conduziram os tratamentos levados a partir desta ficção tão incestuosa quanto o supereu. Lacan lhes respondeu: “Não há mulher senão excluída pela natureza das coisas que é a natureza das palavras(29)”.

Dizer que uma mulher é não-toda, é dizer que ela está em qualquer parte na função fálica sem, no entanto, se sujeitar ao “para todos” da “norma-macho” edipiana. É sustentar que sua relação à função fálica permanece contigente.

Quais são os efeitos, sobre um sujeito-mulher, desta “foraclusão” da mulher na estrutura, tal como podemos referenciar no tratamento?

Esta pergunta se coloca de forma mais importante ainda se pensarmos que Lacan, apoiando-se sobre o gozo dos místicos, nos deixou um grande deserto clínico. Será preciso dizer que nossa clínica cotidiana não nos oferece muitas, ou quase nenhuma, oportunidade de nos encontrarmos com elas.

A clinica da mulher no dia-a-dia nos indica que, muito frequentemente, uma mulher se serve da suplência fálica para apaziguar a foraclusão da mulher na estrutura em que ela é aí confrontada: a mascarada. Mas também tudo o que ela faz no campo fálico - até o bebê tampão - podem tomar esta função com todos os efeitos de ser e falta-a-ser que isto implica.

Entretanto, uma mulher corre sempre o risco, quando é deixada no campo pelo significante fálico, de ter que se haver com o S(A/) sem o recurso da suplência. É aí que a questão do gozo que ela encontra se coloca. A experiência mostra que, o mais comum é que ela se encontre, no mesmo movimento, presa, talvez mesmo engolida pelo gozo do Outro, este gozo que o Outro primordial supostamente toma dela. Aí onde a função do pai falha em produzir uma lei universal, ela, esta falha, expõe a filha a um retorno de/ao gozo do Outro materno, esta mãe fálica toda-poderosa cujo gozo não barrado pode invadir o sujeito como gozo de um supereu mortífero. O sujeito é, então, o lugar de um gozo destrutivo que o domina e o ultrapassa por todos os lugares, o que pode levar a dar a certas histéricas ares psicóticos, ou produzir efeitos de melancolia ao infinito.

Encontro uma referência em Virginia Woolf na sua fórmula límpida de simplicidade pela qual ela responde à Freud quanto ao que quer a mulher. O que ela quer, não é o órgão, é “Um quarto para si”. É preciso entender aí o eco de um desejo feminino mais fundamental: aquele de receber do Outro um lugar onde alojar a mulher que existe nela, esta parte feminina, estranha ao sujeito à qual o Outro, tesouro dos significantes não se encontra em condições de responder. Ela nos leva, totalmente ao coração mesmo da dor feminina que uma mulher não cessa jamais de trazer ou de apresentar ao Outro.

Tem sido cada vez mais frequente encontrarmos na nossa prática novas apresentações clínicas nas quais o sujeito está envolvido com um sentimento que o mundo se desfaz, se desagrega, que nada se sustenta, o que faz com que ele fique desaminado com o mundo, sem referência, sem unidade. Aqui também a questão do diagnóstico pode se colocar. No entanto, é preciso sublinhar como o peso de uma falta-a-ser fundamental está mais de acordo com a subjetividade pós-moderna de um mundo que experimentou a falibilidade dos pais e a quedas dos semblantes. Enfim, que Deus não existe. Assim, a falta-a-ser pode ser um modo feminino de existir em relação ao Outro, com certeza privilegiada, mas a um Outro entanto que não existente. É o que demonstra a histeria nas suas formas mais contemporâneas.

Por isso é muito importante, para a clínica, estarmos atentos e demarcar bem as coisas entre o gozo devastador, psicotizante como gozo do Outro e o Gozo Outro, esta parte do gozo suplementar mais especificamente feminino. Diferença esta que nos dedicamos a esclarecer no nosso último seminário.

É, de fato, notável clinicamente que, aí onde o significante falha em nomear a mulher, uma mulher utiliza, cada vez que ela pode, do recurso ao Outro para, então, receber um pouco de ser, seja apelando ao pai suposto garantir a universalidade da lei, seja buscando a mãe ideal como aquela que saberia o que é ser uma mulher.

Ela pode, também, chamar pela voz de um parceiro a nomeação pelo amor. Daí esta exigência feminina bem conhecida de ser a única: uma maneira de ser reconhecida no amor.

Por isso, em Mais ainda, Lacan vai evocar uma “aspiração ao ser” que parte do não todo em direção ao Um. Existe um apelo feminino em direção ao “aomenosum” (l’hommoizun) - Lacan pode, igualmente designa-lo em termos de “requisito” feminino, absolutamente “gratuito”, “do tipo desesperado” ele diz, pois é contigente na esperança que possa se encarnar em um homem - para aí receber um ser, para tentar nomear esta parte dela mesma não passível de subjetivar. A histeria feminina permanece paradigmática desta aspiração ao Um, mesmo se se trata sempre para ela de denunciar, ao mesmo tempo, o fracasso do pai, do homem a fazê-la existir toda, a lhe dar o signo que ela espera, o significado que lhe diria, enfim, o que é a mulher

Ao oposto da histeria, o não-todo abre a via de uma prática de “ab-sens”, da falha na estrutura, que não passa pelo preenchimento pelo objeto, que não implica o tamponamento da suplência fálica e não intima, necessariamente, ao sujeito seu desaparecimento no gozo do Outro, disso que ele pode amarrar “a héteros” radical da mulher com a função fálica.

Num tratamento, é somente passando pelos desfiladeiros da demanda e do desejo que se pode perceber os limites da lei paterna e do império fálico. Assim poderá, também, experimentar que o simbólico não é tudo e está longe de ser somente essa trama decepcionante que o Édipo coloca em cena para abrir as possibilidades de uma saída em direção a um gozo Outro, esse que a mulher pode capturar ao consentir em se servir do falo.

É, certamente, um gozo que a ultrapassa enquanto sujeito, mas que não se confunde com o gozo do Outro, com esse desencadeamento de gozo que pode retornar no corpo de uma mulher na ocasião de uma devastação, como foi mencionado acima. A condição desta oportunidade é de saber usar o pai, assim com o falo pelo que eles são: semblantes. Trata-se de consentir a usar os semblantes por usá-los, quer dizer, para lhes devolver à sua inconsistência primeira.

Sustentar-se na borda da falha no Outro é experienciar a inexistência do Outro, para além de sua incompletude que sempre deixa a mulher decepcionada. Talvez pudéssemos falar de “saber fazer” com S(A/), este lugar do gozo que Lacan nos diz que "ela faz estender o ser”, saber fazer que consistirá em se servir da inconsistência do Outro para fins de gozo.

A partir do não-todo, um manejo dos semblantes torna-se possível, o que quer dizer que, como é o gozo fálico que está em jogo, o consentimento ao desejo do Outro cessa de ter o caráter decepcionante ou de invasão que normalmente tem na histeria, para tornar-se meio de gozo. Assim, apresentar o falo na mascarada ou sustentar a posição de objeto causa de desejo na relação sexual como formas femininas de ser-para-o-outro amarram o desejo do sujeito ao do Outro sem, no entanto, precipitar o sujeito em um gozo masoquista ou numa identificação ao dejeto ou ao objeto batido.

Na medida em que é o Outro gozo, aquele que não passa ao inconsciente, que é encontrado, não existe objeto nem suplência em jogo. É aí que se pode falar de um “saber fazer” com S(A/), como o abandono do Outro, que os místicos testemunham de um modo luxuriante.

Mas também a clínica cotidiana nos dá alguns exemplos. É assim que da infinita leveza de ser que se pode experimentar no abandono do Outro, no momento mesmo onde, no ponto de ser aí consumido, de desaparecer na perda, o sujeito abandona seu ser de objeto em se liberando da fantasia. É preciso falar, então, da audácia do gesto que, reunindo-se àquele dos místicos, não se reduz a uma arte do extase pois ele pode muito bem desembocar em uma ação.

Certas mulheres podem ter a experiência de um gozo retirado do mais profundo abandono e da “libertação” que elas aí encontraram. Elas falam em termos, não de transgressão, mas de deslocamento, talvez de ultrapassamento, (no sentido não de se ultrapassar, mas de se deixar ultrapassar), o que mostra que esse gesto não é de oposição mas de consentimento. Isto também nos diz que não se trata de vencer a depressão ou a melancolia, mas de uma outra experiência: trata-se, antes de tudo, de buscar apoio no vazio da existência deixada pelo desaparecimento do Outro, para se realizar não mais como objeto (a), mas do lado do desser. É por isso que o gozo que uma mulher encontra e a ultrapassa toma essa nota extática que não podem ter nem o gozo masoquista nem o gozo do Outro, um e outro articulados à fantasia. Muitas mulheres, sobre o divã como alhures, demonstram que suas realizações singulares, quer seja um trabalho de escrita, de pensamento, de criação de toda sorte, talvez até mesmo de engajamento político, se originam nesta experiência.

Para concluir esse nosso extenso trajeto do semestre, eu posso dizer que, se o feminino, em seu silêncio absoluto de gozo fora do sentido, se mantém num mais além do falo, o não-todo é o que lhe dá seu lugar no mundo, que faz que ele nada mais seja que gozo. O não-todo não é a promessa de um gozo todo. Antes disto, ele é a via pela qual o feminino, fora do significante, não fica sem ter apoio sobre o fálico e sobre o mundo, pelo qual ele cessa, portanto, de ser mudo.


Notas

[1]
Elas aparecem primeiro em “O Aturdito”, texto datado de 14 de Julho de 1972 (Outros Escritos, pag. 449-500), e depois, sob a forma de quadro no Seminário XX, 1985, pag. 105
[2]
J. Lacan, Liminaire au LÉtourdit, Revue Scilicet 4, p, 3.
[3]
J. Lacan, Mais ainda, op. cit., p. 54.
[4]
J. Lacan, « O Aturdito », OE, p. 465.
[5]
Ibid., p. 466.
[6]
J. Lacan,  Seminário XIX, …ou pior. Jorge Zahar Editor Ltda, 2012, Rio de Janeiro. P. 197.
[7]
Envio o leitor às primeiras paginas da 33 conferência de introdução à psicanálise “Feminilidade” onde Freud analisa metodicamente a impossibilidade de definir o feminino. Freud, S. Novas Conferências Introdutórias sobre a Psicanalise em Edição Standart Brasileira, Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1976
[8]
J. Lacan, Televisão em OE, p. 530.
[9]
“Tem-se a impressão que o amor do homem e aquele da mulher são separados por uma diferença de fase psicológica”. Freud na Conferência Feminilidade. Op. cit.
[10]
J. Lacan, Seminário XX,  Mais ainda, op. cit., p.79.
[11]
« A mulher, isto só se pode escrever barrando o A. Não há A mulher, artigo definido para designar o universal. », Mais ainda, p. 98.
[12]
J. Lacan, Mais ainda, op. cit., p. 41.
[13]
Ibid., p. 113.
[14]
Ibid., p. 108.
[15]
Ibid., p. 108.
[16]
Ibid., p. 116.
[17]
J. Lacan, Seminário XIX …ou pior, Lição d 8.12.71. op. cit.
[18]
J. Lacan, « O Aturdito », OE, op. cit., p. 467.
[19]
J. Lacan, « Para um congresso sobre a sexualidade feminina », em Escritos op. cit., p. 742.
[20]
« Entschädigung », que Freud eleva ao estatuo de quase um conceito em sua elaboração da sexualidade feminina.
[21]
J. Lacan, Mais ainda, op. cit., p. 100.
[22]
J. Lacan, Seminário XVII, O avesso da psicanalise, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro 1992, p. 67.
[23]
J. Lacan, « O Aturdito », em OE, p. 463.
[24]
“O que eu abordo este ano é o que Freud deixou expressamente de lado, o Was will das Weib? O que quer uma mulher? Freud adianta que só há libido masculina. O que quer dizer isto? - senão que um campo, que nem por isso é coisa alguma, se acha assim ignorado. Esse campo é a de todos os seres que assumem o estatuto da mulher.” Mais ainda, op. cit. Pag 108.
[25]
S. Freud, "Feminilidade, op. cit.
[26]
J. Lacan, Seminário XXI, Les-noms-dupes-errent, inédito, Licão de  9 abril de1974.
[27]
« O gozo só se interpela, só se evoca, só se persegue, só se elabora a partir de um semblante, de uma aparência », Mais ainda, op. cit., p. 124.
[28]
Ibid., p. 100.
[29]
J. Lacan, Mais ainda, op. cit., p. 99.