01.08.2020
A Psicanálise pode levar um sujeito a querer o que deseja e, assim, assumir uma responsabilidade onde antes esperava uma garantia. Responsabilidade que se verifica como a única posição política possível
02.08.2020
O sem-sentido, que habita o núcleo da fantasia, é o responsável pela paralisia do sujeito diante de uma frase. No exemplo que Freud constrói, a frase é: “bate-se numa criança”. O sujeito se detêm diante dela, na ânsia de restabelecer um elo perdido entre o sem-sentido que ela aponta e o Outro do discurso.
03.08.2020
O sintoma é um gozo exilado no deserto do corpo, de cuja existência só encontramos uma cifra que se oferece a decifração na esperança de que uma verdade seja desvelada. O ato analítico pode desfazer essa articulação abrindo espaço a uma nova cifração que acontece a partir do momento em que uma retificação pulsional é feita.
04.08.2020
O recalque incide sobre um significante que nomeia uma pulsão e se apresenta em seu caráter intratável, rebelde e refratário ao laço social. No entanto, este mecanismo falha e o sintoma vai surgir como uma forma de inscrever o que insiste como marcas da singularidade do sujeito e de suas fixações
06.08.2020
É o objeto pequeno “a” que se apresenta no vazio em torno do qual a pulsão faz seu circuito desenhando uma escritura que aponta a repetição do sintoma.
07.08.2020
O final de uma análise se define pela transformação de um significante que, destacando-se do conjunto pleno de sentido, vai produzir um sem sentido, nos dizendo de uma pequena ponta do real que retorna ao sujeito, deslocando-o da posição que, até então, sustentava.
08.08.2020
Uma nova aliança acontece ao final de uma análise pela revitalização da marca (letra) do Nome Próprio propiciando um “saber aí fazer com o sintoma”. “Saber aí fazer com o sintoma” se constitui em uma das fórmulas possíveis da liberdade.
09.08.2020
Uma interpretação produz um significante novo capaz de transmitir o que do encontro com o real foi elaborado. Em outras palavras, é quando se desvela o dizer que estava esquecido por trás dos ditos.
10.08.2020
O final de uma análise acontece no momento em que o significante que sustentou a transferência abre espaço para que o objeto causa de desejo possa reinar, abrindo uma nova relação ao saber e ao consentimento com seu modo próprio de gozo.
11.08.2020
“Entrevistas Preliminares”
Blog clinicalcaniana.blogspot.com
12.08.2020
A identificação da qual se trata, quando falamos em final de análise, é à letra do sintoma, àquela que, uma vez rompido o circuito pre-estabelecido pelo sentido congelado da fantasia fundamental, poderá tornar- se um traço que desvela alíngua como corpo do simbólico e enlaça o corpo do imaginário ao corpo do real fazendo consistir os três termos Real, Simbólico e Imaginário.
13.08.2020
É a partir de um sintoma, ou melhor da falha de um sintoma, que um sujeito vem se candidatar à análise. Podemos dizer que mesmo assim, não está ainda estabelecida uma demanda de análise. É tarefa do analista trabalhar para que o sintoma que o sujeito traz se torne um sintoma analítico, onde o analista estará incluído a partir mesmo da transformação deste sintoma em uma questão que Lacan define como sendo um “Que queres” (CHE VUOI?).
14.08.2020
A transferência se sustenta em um significante qualquer que se destaca na fantasia de quem busca um analista, mas que, por isso mesmo, não é qualquer significante. É um significante que vai sustentar todo o processo a partir da estrutura sintomática, construída pelos significantes que são postos em cena na fantasia fundamental.
15.08.2020
Sócrates, antes de beber a Sicuta teria dito que deixava o corpo para viver a liberdade do espirito. Assim penso ser um espetáculo de dança. Uma tentativa de matar os parâmetros simbólicos do corpo através das imagens dos movimentos, libertar a alma. Uma liberdade da imagem nos limites da transmissibilidade da palavra.
16.08.2020
Podemos acompanhar Lacan pelos caminhos hegelianos que marcaram os primórdios de seu teorizar, para vê-lo chegar ao que chamou os enganos de Hegel ao nos dizer que, no final do caminho, o que o Espírito poderá encontrar não será nunca o Saber Absoluto, mas sim uma fronteira fechada, marcando claramente que “a verdade não é mais do que aquilo do qual o saber não pode aprender senão ao fazer agir suaignorância”. (Lacan, J. ,Écrits, pág. 798): é o ser do sujeito que a dúvida cartesiana marca com uma divisão entre o saber e a verdade.
17.08.2020
A eficácia é a qualidade daquilo que produz o efeito desejado. No que diz respeito à interpretação, vamos delineá-la, com Lacan, como tendo a estrutura de um saber enquanto verdade, e se situando em algum lugar entre um enigma, que é o que podemos chamar de uma enunciação da qual encarregamos que façam enunciado, e uma citação, que colocamos como sendo um enunciado solidamente apoiado no nome de um autor.
18.08.2020
A elaboração teórica de Lacan vai no sentido de Freud para aí reconquistar o inusitado, restabelecendo o fio cortante de sua verdade na construção de conceitos graças aos quais o psicanalista poderá se referenciar na sua prática para dar conta de seus atos. Graças a isso a psicanálise tem chance de sobreviver.
19.08.2020
Pode-se dizer que um sujeito procura a psicanálise no momento em que se torna insuportável para ele sua divisão entre saber e verdade. Isto se dá no ponto onde o deslizamento metonímico da cadeia significante se interrompe: “as coisas até aqui caminharam, nos diz alguém, mais não sei porque pararam de andar e até pioraram”.
20.08.2020
É por conseguirem um tipo de satisfação no sintoma que, muitas vezes o sujeito pode se dar muito mal. Até certo ponto é este "mal-a-mais" a única justificativa de uma intervenção psicanalítica, para que ao nível da pulsão este estado de satisfação possa ser retificado.
21.08.2020
É no ponto em que o saber constituído do sintoma deixa de obturar a verdade da qual o sujeito não quer nada saber, que vamos ver nascer uma demanda de análise e com ela a transferência.
22.08.2020
Freud já nos esclareceu que os pontos de silêncio que acontecem quando a associação livre é interrompida são a consequência do analista estar ocupando um lugar destacado no pensamento do analisante. Mas cumpre ressaltar que estes momentos de estagnação, longe de serem tempos mortos, perdidos para o sujeito, são, ao contrário, intervalos onde desponta um material específico, aquele da relação ao objeto que nos diz da fantasia fundamental.
23.08.2020
É a interpretação, enquanto um ato analítico, que permite saber para além da significação a qual significante o sujeito está submetido.
24.08.2020
Nas coisas do amor é preciso que se tenha no mínimo três: Um, o amor e o outro.
Isto não escapa a Sócrates que, no final da fala de Alcebíades – que fica entre uma declaração de amor e uma difamação – possa dizer: “Isso não é para mim que tu falas, é para Agatão.”
Temos aí o que Lacan diz ser a primeira interpretação analítica, apesar de Sócrates, ainda segundo Lacan, ser o “divino histérico”, e não o analista de Alcebíades...
25.08.2020
No seu Seminário 8, Lacan nos alerta quanto aos “modelos antigos” de se teorizar a psicanálise que apontam para a intersubjetividade, pois o que vemos articulado na natureza do amor de transferência, e que se apresenta como ponto de virada, é exatamente esse elemento terceiro da relação do sujeito ao significante: o objeto. Objeto este que assume as funções do ágalma.
26.08.2020
No Seminário XX, “Mais Ainda”, Lacan nos diz que o objeto “a” não é nenhum ser; o objeto “a” é isso que se supõe de vazio numa demanda.
27.08.2020
É numa frase que um ser de desejo se sustenta e é sustentando o vazio da demanda que vamos nos assegurar que o sujeito fale, pois, afinal de contas: “não nos interessa , com diz Lacan, o por que sua filha é muda; o que nos interessa é que ela fale.”
28.08.2020
O ágalma, este objeto que sustenta a vida amorosa, se transforma no amor de transferência em objeto causa de desejo, que terá como produto um significante novo. Um analista!
29.08.2020
Desde o primeiro momento, no seu Seminário XI, escutamos Lacan dizer que o Sujeito é, antes de tudo, faltante. A ele falta o significante que o designaria e que lhe daria, de uma vez por todas, a sua identidade; falta-lhe um pouco de ser que lhe daria alguma consistência. O sujeito do inconsciente é vazio, ou seja, nem significante, nem ser, mas dividido, marcado pela barra $, a mesma que, na teoria dos conjuntos, indica um conjunto vazio.
30.08.2020
A transferência está no início do tratamento e se instala aí na tentativa de, atribuindo a um Outro o saber que lhe falta, alcançar uma resposta que seja o saber último sobre esta sua verdade. É o Sujeito Suposto Saber que surge, fazendo valer um significante qualquer como aquele onde um sujeito poderia ser representado.
31.08.2020
À psicanálise é dada a responsabilidade de recolher o efeito de verdade que responde à produção de um saber novo pela ciência. A este efeito de verdade, Freud deu o nome genérico de mal-estar.