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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Sobre a estrutura dos discursos (III)

Lacan, em seu texto Radiofonia, nos propõe tomarmos como base para justificar cada um dos discursos - como eles se articulam e como cada um se constituiu a partir de sua relação com um outro - a interdependência entre eles:




Os discursos estão ordenados pela presença do Real que foi introduzido a partir do Discurso Analítico inventado por Freud. Este Real limita o número dos discursos em quatro, ao estabelecer uma revolução não permutativa da posição dos quatro termos e deixando-se entrever pelo ponto onde algo não passa entre a produção e a verdade: este ponto onde se colocam duas barras onde deveria existir uma seta.
Penso ser importante salientar aqui esta disjunção entre produção e verdade. Ponto onde a sincronia se rompe sempre entre elementos diferentes, pois, sendo fixa (entre dois lugares), deixa a permutação por conta dos elementos que ocupam estes lugares. Isto é constatado pela própria estrutura e a sequência das flechas. Neste ponto Lacan vai escrever “impotência” que se define pela barreira do gozo, ou seja, o que está posto, deste o primeiro Lacan, desta forma: a verdade não passa à palavra  Por isso, a verdade, apesar de ser parente do gozo (Lacan a denomina irmã), ela guarda, em relação a este, uma diferença fundamental. Diferença esta que JAMiller destaca como sendo aquela entre o Semblante e o Real. A verdade, como tal, é um semblante. Por isso a definimos, com Lacan, como sendo o que só pode ser apreendido entre linhas, e que, por isso mesmo, só a temos como meio dizer. Ela está articulada à linguagem e encontra na formulação dos discursos um lugar, mas ela não se articula à palavra. Lacan nos diz desta impossibilidade ao escrever seu matema S(A/). O gozo, por outro lado, se apresenta colocado nos discursos como este resto da operação significante, este resto que diz que nem tudo pode ser posto em significantes. Isto que escapa ao significante e que permanece como resto do Real preso nas malhas do discurso. O objeto pequeno “a” que aí está para nos dizer disto é a escritura que foi construída por Lacan para dar conta desta presença. Mas o objeto “a” não é o Real. Ele é semblante e é assim que ele nos diz do Real que está alhures. Podemos articular o objeto “a” no nó borromeo onde as três categorias tem o mesmo peso: 





No Discurso do Mestre o que vai se destacar é a presença do mais de gozar, deste Semblante de Real, que só satisfaz o sujeito ao sustentar a realidade unicamente pela fantasia. 
  


Já no Discurso do Universitário, o que se observa é a brecha em que é tragado o sujeito que ele produz. Este sujeito como produto acontece por ter que se supor um autor ao saber, ali onde a verdade não pode ser dita. Como consequência o ponto de Real fica deslocado para o Outro e assujeitado à ação do saber.




A proposta de Lacan, a partir dos esquemas que estão acima é dizer do que acontece quando este ponto de Real produz uma dinâmica em progresso para o pior sobre o discurso que o precede em certo sentido rotatório. Este pior, pode ser compreendido a partir da afirmativa que o Discurso do Analista coloca como agente o “que perdura de pura perda” (a/-φ) e “que só aposta do pai ao pior”, como afirma Lacan na frase final de ‘Televisão”.



O Discurso do Mestre vai encontrar sua razão se articulado ao Discurso da Histérica, por regressão do movimento das flechas, posto que, ao se fazer onipotente, o Mestre renuncia a responder como homem ao que lhe é demandado, permitindo à  histérica obter apenas saber. Saber que ele busca no escravo que produz o mais-de-gozar, pois o Mestre não consegue fazer da mulher causa de seu desejo. Em outras palavras, ele só consegue sustentar sua relação à mulher como objeto.
Já o Discurso do Analista, por estar em progressão em relação ao Discurso Universitário, pode circunscrever o Real que sua impossibilidade demonstra, por supor que o sujeito queira questionar o mais-de-gozar que o trouxe à análise. Isto é possível quando já se tem, na transferência, uma suposição de saber que sustenta sua verdade. Esta posição é o que propicia a passagem do sujeito ao significante mestre que lhe sujeitava.
O que está em jogo, afinal de contas, é o saber da estrutura, que, no Discurso do Analista, ocupa o lugar da verdade.


Um comentário:

  1. Parece bem difícil esses conceitos. Ainda não cheguei ai.
    Como faço para me comunicar com o dono do blog?
    Obrigada

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