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segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Entrevistas Preliminares

 

Falar da primeira entrevista ou das entrevistas preliminares, como prefiro chamar, com Lacan, a este período que compreende a chegada do paciente ao consultório do analista e a entrada em análise, não é sem dificuldades.

A primeira delas consiste em transmitir-lhes algo sem que, contudo, isto fique aí como normas ou regras a serem seguidas. O próprio Freud, quando escreveu a série de textos que estão agrupados sob o título de “técnica”, várias vezes levantou estas questões, preferindo chamar de recomendações e não regras e afirmar que não se aventurava a negar que um outro médico pudesse adotar atitudes diferentes, não só em relação a seus pacientes, mas como em relação à tarefa que têm pela frente.

No entanto, alguns pontos marcam um trajeto que deve ser respeitado, se queremos chamar de psicanálise o que vamos iniciar. Desta forma, já desde o início, é preciso fazer valer a regra fundamental, que é a Associação Livre, convidando o candidato à análise a dizer tudo aquilo que lhe vem à mente, por mais sem sentido que possa parecer e por mais que a censura diga não. Um pequeno parêntese para dizer que isto que é chamado de Associação Livre, na verdade, não é nada livre, pois obedece a toda uma trama de ligações e deslocamentos que são predeterminados. É por ser assim que a Associação Livre acaba por nos levar ao ponto onde está aprisionado o sujeito em questão.

Fazer valer a regra fundamental da análise, sem contudo, estar o sujeito em análise é um paradoxo que se estabelece neste momento.

Uma das consequências de se adotar este procedimento já desde o início, é que toda aquela parafernália do chamado contrato terapêutico amarra todas as possibilidades do fator surpresa, elemento importante e eficaz desta tática terapêutica.

O que acontece é que cada uma destas questões práticas, vão sendo colocadas a medida em que as situações ocorrem, sem serem postas como normas rígidas. Por exemplo ao final de uma sessão, cobra-se por ela e solicita-se que o paciente retorne numa próxima vez...

Essa maneira de ver as coisas desloca a função das entrevistas preliminares para outros objetivos.

 

É a partir de um sintoma, ou melhor da falha de um sintoma, que um sujeito vem se candidatar à análise. Podemos dizer que mesmo assim, não está ainda estabelecida uma demanda de análise. É tarefa do analista trabalhar para que o sintoma que o sujeito traz se torne um sintoma analítico, onde o analista estará incluído a partir mesmo da transformação deste sintoma em uma questão que Lacan define como sendo um “Que queres” (CHE VUOI?).

A questão diagnóstica é importante pois vai definir a direção do tratamento, seus limites e objetivos.

Por isso é tão importante, às vezes, prolongarmos um pouco mais as entrevistas preliminares, até que possamos ter claro qual a estrutura clínica se encontra sustentando o sintoma apresentado, se uma neurose, uma perversão ou uma psicose.

A transferência nos aponta para a situação analítica propriamente dita. No começo da psicanálise está a transferência nos diz Lacan, e o seu pivô é o Sujeito Suposto Saber. É verdade que quando alguém procura um analista é porque algo da ordem da transferência já existe. Esta transferência está dirigida ao saber que é suposto se encontrar ali, naquele que se oferece para escutar um sujeito. Ela se sustenta em um significante qualquer que se destaca na fantasia de quem busca um analista, mas que por isso mesmo, não é qualquer significante. É um significante que vai sustentar todo o processo a partir da estrutura sintomática, construída a partir dos significantes que são postos em cena pela fantasia fundamental. Ele vai reinar no processo até o ponto em que não se fizer mais necessário. Neste momento convém assinalar que, se por acaso o analista que está sendo investido por esse significante da transferência optar por encarná-la, o trabalho estará fadado ao insucesso. Em outras palavras, a transferência não é uma função do analista, mas sim do analisante.  A função do analista é saber utilizá-la. Assim, enquanto fazendo parte da estratégia fundamental da análise, a transferência é o que vai sustentar a báscula do discurso do candidato à análise em analisante, a partir mesmo da não-resposta do analista que, de sua posição  não sustenta um todo saber, nem tampouco a ideia de compreender o paciente, mas sim de saber que está em jogo o mal entendido, estabelecendo assim uma dissimetria fundamental o que permite ao analista, poder retornar este mal-entendido sobre o próprio sujeito que fala, devolvendo-lhe sua própria mensagem invertida.

Desta forma fica claro que a função do analista é sustentar a função da fala no campo que é o da linguagem, tendo por princípio que o inconsciente é estruturado como uma linguagem.

domingo, 2 de agosto de 2020

Stories do Facebook - II


10.07.2020

Atribuir a um Outro o que lhe falta é a base da relação amorosa por excelência: ama-se no Outro o “agalma”, objeto precioso, essência de um ser-em-falta que se ilude na reciprocidade do amor.
Em se tratando da transferência, no entanto, vemos uma dissimetria colocada a priori já que nesta relação há pelo menos um que quer a mudança, há pelo menos um que calcula e, ao recusar o lugar de amante que lhe é oferecido responde, por seu não-saber, com um Che Voui ?, um desejo de saber.

11.07.202i0
O sujeito nasce como efeito de um menos, um menos de gozo que advém da extração que o significante opera no campo do Outro. Esta operação instala, necessariamente, um certo mal-estar, um certo incomodo que vai gerar um movimento de busca incessante, ali mesmo onde algo se perdeu. É a partir deste ‘menos’, portanto, que se inicia o que Lacan denominou, de Automaton - a repetição da impossibilidade na cadeia significante. 

12.07.2020

É a partir da incidência da castração, do “não do Pai”, que o sintoma vai surgir como tentativa de restabelecer o laço entre o sujeito e o Outro. Neste sentido, podemos dizer que o sintoma é uma solução para evitar o encontro com a castração.

13.07.2020

O sintoma pode ser definido como “o resultado de um conflito, que surge em virtude de um novo método de satisfazer a libido. As duas forças que entraram em luta encontram-se novamente no sintoma e se reconciliam, por assim dizer, através do acordo representado pelo sintoma formado.

15.07.2020

Partindo da premissa estrutural de que não há relação entre o sujeito e o Outro, o sujeito está, desde sempre, afastado de sua verdade. O laço possível, entre o sujeito e o Outro, se faz pelo sintoma. E se faz, com a criação de um “ser de saber” ali, onde a verdade lhe está vetada.


16.07.2020

Estrutura de ficção, queixa, sofrimento, não importa como a ele nos referimos, a verdade é que o sintoma é o que vai dizer de algo que não vai bem e o “clamor da humanidade” é pelo apaziguamento do mal-estar que isso provoca.
Por isso é fundamental que o analista não ceda de seu desejo.


17.07.2020

O sintoma é o que cada tem de mais particular, e também o de mais real. Por isso o sujeito neurótico se apega tanto a ele, como possibilidade única, de fazer frente ao que lhe está prescrito pelo Outro. 

18.07.2020

Ao diferenciarmos o lugar do analista, do lugar do terapeuta, estamos dizendo que nosso compromisso não é com o movimento humanitário que, com seu clamor, espera poder uniformizar o que há de mais particular. Nosso compromisso é com a particularidade de cada um.

19.07.2020

O “Estilo” é o objeto ‘a’ enquanto marcado pelo traço unário e pela incidência do “dizer verdadeiro” que deixou uma “ranhura” indelével.

20.07.2020

Com a instalação da transferência acontece o primeiro passo para que a construção de um quadro, de uma cena possa acontecer. O passo seguinte é   estabelecer um saber que possa sustentar um umbral onde um atravessamento poderá ocorrer para que uma identificação ao sinthoma venha traduzir um aí saber fazer.


21.07.2020

Nascemos e vamos, passo a passo a partir da palavra do Outro, construindo um corpo que pode nos fazer representar no mundo. A partir deste corpo, marcado pela linguagem e, também linguagem, estabelecemos um lugar de onde podemos traçar os rumos do desejo que se constitui neste mesmo processo.

22.07.2020

Há, nos movimentos desenhados em um espetáculo de dança uma luta entre o corpo simbólico e a possibilidade de liberdade da
imagem, enlaçados pelo real deste resto que não se desprende e que não é assimilado. Percebe-se aí o que se transmite no vazio de um desejo de quem participa da criação

23.07.2020

Sabe-se que um resto sempre permanece e que pode, quando possível, ser elevado à condição de causa de desejo.
Esta causa, este vazio onde cada um pode colocar algo de seu, acrescentando um a mais ao que a realidade apresenta, é fundamental para fazer caminhar a humanidade. Este algo a mais tem um nome: criatividade!




25.07.2020 

A impossibilidade da relação sexual, que não cessa de se escrever, promove o sintoma como única possibilidade de se fazer laço, ao mesmo tempo que permite uma leitura, uma vez que ele participa de uma escritura, função da letra.

26.07.2020

Quando o recalque falha o que retorna  surge como sintoma, inscrevendo o que insiste como marca da singularidade de um sujeito.

27.07.2020

O sintoma, assim como a cena da fantasia fundamental, nada mais são do que envelopes da pulsão, modalidades de seu exercício, formas que o sujeito busca para apreender um objeto, no campo do Outro, que lhe sirva de parceiro.

28.07.2020

Mais além da teoria que sustenta sua prática, o analista sempre se orienta pelo que pode perceber por trás dos ditos e que se apresenta, simplesmente, como antinômico ao efeito de sentido que se compreende.

29.07.2020

De uma maneira simples, podemos dizer que o momento em que uma análise se conclui é definido por uma transformação de um significante que, destacando-se do conjunto pleno de sentido, vai produzir um sem sentido, nos dizendo de uma pequena ponta do real que retorna ao sujeito, deslocando-o da posição que, até então, sustentava.

30.07.2020

A pulsão é a força Real da fantasia, o que denuncia o limite do sintoma à ação do simbólico.

31.07.2020

O resto que escapa, foge, retorna sob a forma de mal estar e relança o vetor pulsional sempre na direção determinada pelo imperativo do super-eu. Desfazer este circuito, devolvendo ao objeto sua característica de ser qualquer um, mobilizando o seu valor de causa é um dos objetivos de uma análise.