Oi, Celso,
Estava procurando um texto seu que distingue a angústia (própria da neurose) da experiência psicótica de gozo. Lembro-me que já conversamos sobre a impropriedade de chamar de "angústia" a experiência real de fragmentação e horror que experimenta o psicótico.
Olá! Musso,
Realmente sempre disse e eu continuo a dizer isto: a experiência do psicótico que ainda insistem em chamar de angústia não pode ser assim nomeada. Eu prefiro chamá-la perplexidade, horror ou até mesmo pânico, mas não podemos denomina-la como angústia. Tenho isto escrito em alguns textos de forma pontual. Caso encontre algum lhe comunico, mas certamente os fundamentos de minha justificativa se encontram no texto conhecido como "Caso José" - "Do delírio ao ato" - e que se encontra em meu livro "Psicanálise Caso aCaso".
No entanto, posso lhe resumir aqui meus argumentos:
Em primeiro lugar, e penso que isto já define por si só, temos que levar em conta o conceito de angústia como sendo o que acontece quando "a falta falta" o que traz a presença de um objeto que não deveria estar ali trazendo, como nos esclarece Freud, um sinal de perigo. Ora, na psicose sabemos que o objeto não se perdeu, pois a entrada na linguagem não propiciou o estabelecimento de um discurso. O significante não se presta a uma interpretação como acontece na neurose, a partir de uma fantasia que se estutura como fundamental e que se construiu na constituição do sujeito. O significante chega como presença real, sempre! Ao psicótico só resta tratar isto produzindo um delírio no lugar onde a fantasia deveria sustentar a relação do sujeito ao Real. Dai decorre também a falta de uma estabilidade própria da psicose (mesmo que tenhamos delírios bem estruturados, o psicótico tem que interpretar e inventar a cada vez - por isto se pode dizer que o psicótico é o mestre do significante). Em outras palavras não existe a estabilidade de um binário S1-S2 que propicia a ex-sistência de um sujeito em posição de desejar um objeto ($<>a). Temos, portanto, um delírio que vai se moldando às presenças, sempre renovadas, de significantes na sua face Real.
Outra consequência disto e que nos ajuda a entender o que digo sobre não podermos falar de angústia é o fato de que na psicose não existe a pulsão. Podemos até constatar a presença dos elementos pulsionais, mas a pulsão permanece fragmentada, pois se objeto não foi extraído do campo do Outro, o circuito da pulsão não pode acontecer. A libido não pode investir um objeto pois ele está presente, enquanto Real. Então, diante desta impossibilidade a curva se volta a sua origem e o resultado é perplexidade!
Bem, podemos continuar a conversar
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