Proponho que comecemos por uma citação do texto freudiano, mais exatamente de “Os três ensaios...”, que vou me permitir transcrever aqui, com o intuito de pavimentar o caminho de minha exposição: “No tempo, quando os primórdios da satisfação sexual estavam ligados à amamentação, a pulsão sexual tinha um objeto fora do próprio corpo do infante, na forma do seio de sua mãe. É somente mais tarde que a pulsão perde este objeto, justamente no momento, talvez, em que a criança é capaz de formar uma idéia total (Gesamtvorstellung) da pessoa a quem pertence o órgão que lhe está dando satisfação. Como regra, a pulsão sexual se torna autoerótica (...). Há, pois, boas razões do porque uma criança sugando o seio de sua mãe tornou-se o protótipo de toda relação de amor. Encontrar um objeto é, de fato, reencontrá-lo.”(1)
Esta passagem, em Freud, nos diz claramente da constituição do campo do Outro e da produção de um resto como consequência da operação de separação, tão bem desenvolvida por Lacan em seu “Seminário XI” e “Posição do Inconsciente”. Mais do que isso, e diretamente ligado ao tema de nosso trabalho, nesta passagem fica posto que a inauguração da atividade pulsional acontece no instante em que uma perda ocorre. Em outras palavras a busca do objeto perdido, que inaugura a atividade do inconsciente nada mais é do que um trabalho de luto. O trabalho do inconsciente é trabalho de luto e a atividade pulsional vem aí testemunhar disto, com sua pulsação em torno de um objeto que, sendo “uma cor-de-vazio, suspenso na luz de uma brecha”(2), não para de não se apresentar ali onde um reencontro é esperado. “O luto é a saudade de algo perdido”.(3) Caso encontre um obstáculo no caminho de sua elaboração se torna melancólico e testemunha de “uma perda na vida pulsional ... (nos dizendo que) não estaríamos muito enganados, portanto, de começar da idéia que a melancolia consiste no luto sobre a perda de libido”.(4)
Luto, melancolia e pulsão estão, portanto, associados deste os primórdios freudianos. Para reforçar esta idéia, retomo uma outra passagem do texto onde ele afirma que enquanto “no luto é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia é o eu ele mesmo (...). Há um suplantar das pulsões que compelem cada coisa viva a agarrar-se à vida”(5).
Seguindo esta trilha, Freud em seu texto “O Eu e o Isso” vai explicar a “dolorosa desordem da melancolia supondo que um objeto que foi perdido reinstalou-se dentro do Eu - quer dizer - um investimento objetal foi substituído por uma identificação”(6).
Mais à frente, no capítulo sobre “As duas classes de pulsões”, ele vai esclarecer que “ambas as pulsões (vida e morte) estariam ativas em cada partícula da substância viva, apesar de estarem em proporções desiguais…”(7). Estas duas pulsões se encontrariam em um estado permanente de “Mischung” - fusão, embaralhamento, mistura. Em situações especiais, elas sofreriam uma “Entmischung” - defusão, desintricamento.
Escolho a clínica como suporte de meu trabalho, mesmo porque ela é a razão principal para escrever esse texto. Da clínica escolho um caso onde um sujeito apresentou um quadro de depressão intensa como reação ao falecimento de um familiar. Uma depressão, associada a uma forte angústia, já estava presente como motivos de sua demanda de análise. Digo que já em Freud encontro que a neurose obsessiva é propensa a se associar a um quadro sintomático de depressão: “entendemos que a defusão pulsional e uma acentuada emergência da pulsão de morte chamam para uma consideração particular entre os efeitos de algumas neuroses severas - p.ex. neurose obsessiva”(8). É exatamente deste ponto que vou partir.
No texto “Luto e Melancolia” está escrito que “das três precondições da melancolia - perda do objeto, ambivalência e regressão da libido ao eu - os primeiros dois são também encontrados nas auto-censuras obsessivas que surgem após a ocorrência de uma morte.”(9) A partir desta associação das idéias obsessivas com a depressão(10) podemos observar que os sujeitos que escolheram este tipo de estratégia na sua relação ao Outro são especialmente susceptíveis ao desenvolvimento de sintomas depressivos. Mas chamo-lhes a atenção que para se constituir um quadro de melancolia é fundamental a terceira precondição: “a regressão da libido ao eu”.
Trago-lhes alguns fragmentos clínicos que comentarei para mostrar esta associação da neurose obsessiva e depressão, assim como as dificuldades clínicas decorrentes do que Freud denomina “defusão” (Entmischung) da pulsão, que vai deixar a céu aberto o silêncio da pulsão de morte.
“Sempre que eu ia comer uma fruta que escolhia no pomar de minha casa, mesmo que encontrasse apenas uma, oferecia primeiro à minha mãe, torcendo para ela não aceitar.” Esta pequena lembrança da infância de uma paciente veio reforçar a hipótese do diagnóstico de neurose obsessiva, em um sujeito do sexo feminino, filha caçula de uma enorme prole e que passou sua vida sob a égide do desejo de morte explicitado e repetido várias vezes pelas seguintes palavras de sua mãe: “eu não queria que você nascesse, mas o médico me disse que você poderia ser a minha salvação”. Desde então, ela, que disse ter sido “uma criança dominada por palavras”, vem desenvolvendo tentativas de dominar sua angústia pelo viés do saber: primeira aluna da escola, filha e irmã exemplar, está sempre atenta à demanda do outro na expectativa de poder antecipar todas as necessidades dos que a cercam, ao mesmo tempo em que está sempre adiando seus atos, na esperança de apagar a chama do desejo.
Desde Freud tem sido colocado e trabalhado pelos psicanalistas a relação da neurose obsessiva e a dialética da demanda anal (reter as fezes - dar as fezes), na medida em que ela funda o desejo de expulsar as fezes. A incidência disto é consequente à demanda de satisfação do Outro que, na ocasião se estrutura como a expectativa do educador materno.
Do que se trata então é de uma disciplina da necessidade que produz a sexualização no movimento de retorno à necessidade - o excremento adquire um caráter de presente - em contraposição à demanda oral onde a libido sexual é bem, em efeito, um excesso que torna vã toda satisfação da necessidade aí, onde ela se coloca. É a recusa de satisfação da necessidade - da fome - que vai preservar a função do desejo, muito bem explicitado nos casos de anorexia.
Este retorno à necessidade, movimento determinado pela fixação libidinal, por uma fixação de gozo, instala a presença real do terceiro (objeto fezes) e com isto estabelece o campo da dialética anal como sendo o verdadeiro campo da oblatividade. Cumpre ressaltar que esta realização do objeto da fixação libidinal (ou, se quiserem, do gozo) “é especialmente colocada em evidência nas perversões, nos diz Miller, (onde) encontramos, podemos assim dizer, a céu aberto, uma memória do gozo que toma a forma de um mau encontro (dustuchia), ... um acontecimento de gozo inesquecível. É dentro desta visão que podemos construir uma antítese entre a inesquecível fixação de gozo e isso que é da ordem do recalque, onde o esquecimento vem recobrir o que teve lugar”(11).
Na neurose obsessiva, no entanto, esta fixação libidinal vai fazer emergir não o objeto imaginário, como nas perversões, mas sim a função do falo Φ (Phi), sob a forma degradada de ϕ ao nível da consciência. Fazer a função fálica consciente é uma “possibilidade de cumplicidade do sujeito com ele mesmo (conscius) ... portanto também de uma cumplicidade com o Outro que observa”(12).
Retomando o termo da oblatividade, tão presente na vida do obsessivo e em especial desta paciente, podemos afirmar, com Lacan, que “o termo mesmo de oblatividade é uma fantasia do obsessivo. Tudo para o outro (13), ... e é bem isso que ele faz pois, estando na vertigem perpétua da destruição do outro, ele não faz aí jamais o bastante para que o outro se mantenha na existência”(14). É assim que esta paciente vai dizer das raivas que sentia de sua mãe: “Em alguns pontos não consigo perdoar mamãe.” Para, em seguida tentar desfazer essa raiva: “Mas não tem sentido estas coisas me provocarem sofrimentos...”
A fantasia do obsessivo, Lacan vai colocá-lo no seguinte matema:
A/ <> φ (a, a’, a”, a’” ...)
A/ <> φ (a, a’, a”, a’” ...)
Diante da demanda de um Outro barrado, portanto em falta, o sujeito se oferece enquanto falo imaginário, servo deste senhor, propondo constituir-se como Outro do Outro, na tentativa de suprir-lhe a demanda infinita pela via do deslizamento metonímico de objetos de desejo. Objetos estes instalados numa série de “equivalência permanente, ... tomando o lugar do ϕ como redução de Φ ou até mesmo de degradação deste significante”(15). Desta forma procura colocar ao abrigo seu próprio desejo, apagando a demanda do Outro. E o faz deslocando para si próprio a pergunta que faria ao Outro: onde falhei? Temos aí o que se chama clinicamente o sintoma da dúvida: “Será que se tivessem me dado a chance de escolher se eu queria ou não nascer eu teria escolhido nascer?”.
Ao tamponar assim, no Outro, a divisão entre o saber e o gozo, ela pode assumir essa solução do desejo que é a erudição. Talvez por isso seja possível aproximar do dialeto da neurose obsessiva a estrutura do discurso da Universidade:
S2 -----> a
S1 // $
Em outras palavras podemos dizer que o obsessivo vai tentar fazer do saber um remédio ao mal-estar que se apresenta no real do objeto como mais-de-gozar: “Por que a angústia? Racionalmente eu entendo, mas emocionalmente ...”, disse a paciente outro dia, diante de toda impotência do saber adquirido, não só nos livros como até mesmo em seu percurso analítico, para apaziguar a angústia que a assalta constantemente. Na verdade, contrariamente a todo o movimento que ela faz na direção de obter este “saber”, o sonho do obsessivo é “nada a saber” do objeto, ou seja, cobrir o referente pelo significante, como nos diz C. Soler: “o que implica uma posição em relação ao Outro, ao desejo do Outro, que é uma posição de anulação”(16). Em outras palavras, ele está disposto a gozar do saber à condição de que não seja o saber sobre o gozo. “Será que todas as minhas neuroses são geradas pelo relacionamento com minha mãe?” E ela continua: “Pelo nosso trabalho penso que sim. Pelo meu lado acho que é patológico mesmo, é uma carga genética que eu tenho que carregar.” Com esta declaração, a paciente deixa claro o lugar que coloca o seu saber: oscilando entre um ponto e outro, ela passa o tempo repetindo uma ação sempre incompleta na esperança de poder evitar isso que fará da ação mesma um ato: o dizer do ato.
Esta fragilidade do saber em cercear a irrupção do vazio do entre-dois significantes, assim como a ineficácia do adiamento, da insistência da repetição (automaton), como forma de evitar o encontro (tiquê), só nos dizem da suscetibilidade que apresenta a estrutura obsessiva à depressão. Neste ponto, onde falha sua estratégia, “pode se introduzir isso que dissolveria toda sua fantasmagoria”(17).
Por isso o obsessivo faz deslocar sua ação para o eixo do simbólico na tentativa de abdicar de seu desejo colocado alhures, a partir mesmo da transferência que faz de seu gozo a um outro imaginário a quem supõe gozar: “Olha para a minha sobrinha, já teve o segundo filho e está lá ... terminando a residência, dando plantão. Tem força para tudo, não tem dúvidas... Esta sobrinha era a querida de mamãe ... Acho a vida dela muito boa. Apesar das dificuldades.”
No final do ano passado um acontecimento veio acentuar ainda mais a angústia e a depressão que a paciente demonstrava ao longo de todo o seu percurso analítico. Após um grande período de sofrimento, sua mãe faleceu.
Em consequência, o desenvolvimento do seu processo foi bruscamente interrompido. Em lugar de se fazer um luto onde “o teste da realidade mostra que o objeto amado não mais existe demandando a que toda libido seja retirada da sua ligação a este objeto”(18), instalou-se uma oposição tão intensa que um afastamento da realidade aconteceu prolongando a existência psíquica do objeto perdido: “cada uma das memórias e expectativas nas quais a libido está ligada ao objeto foi trazida à tona e hiperinvestida”(19). (Este momento descrito acima, foi acompanhado com muita atenção, inclusive com indicação de um colega psiquiatra para acompanhá-la com medicação pois, fenomelogicamente, o quadro apresentado muito se aproximou de uma melancolia.)
Normalmente, quando o processo de luto está completo, o “eu, nos diz Freud, se torna livre e desinibido novamente”(20). Com esta paciente, no entanto, um outro caminho parece ter sido tomado, a partir mesmo do prolongamento deste luto. Já vivendo os augúrios da estrutura obsessiva que não lhe permite, como ela mesma disse, “vazios na agenda”, esta perda colocou em cheque todo o seu esforço para cercar através do racional, do saber, o que poderia haver de espaço entre dois significantes. Em outras palavras, o último recurso que encontra o sujeito, no momento de fading é agarrar-se ao objeto na estrutura própria da fantasia fundamental - este objeto que vem aí como elemento de vida, como resposta a esta falta devido ao efeito mortificante do significante(21). No caso que lhes trago pode ser observado que “o objeto perdido reinstalou-se dentro do Eu - quer dizer - um investimento objetal foi substituto por uma identificação”(22). A paciente desenvolveu uma série de sintomas físicos semelhantes aos de sua mãe, chegando mesmo a produzir uma doença auto-imune: Artrite Reumatóide. A morte que sempre esteve perto deste sujeito, como ela mesma tantas vezes já expressou, se concretizou na morte da mãe e este acontecimento “comportou-se como uma ferida aberta, drenando para si as energias do investimento ... de todas as direções e esvaziando o eu …”(23). Esta energia, esta libido, no entanto, não se presta a nenhum outro uso, mas sim a “estabelecer uma identificação do eu com o objeto abandonado, projetando a sombra do objeto sobre o eu, que pode ser, a partir daí julgado por uma agência especial, como se fosse um objeto, o objeto abandonado.”(24) Uma outra forma de formalizarmos este ponto pode ser assim escrita:
S2 ——> a
S1 // $
Um sujeito barrado, portanto desejante e, como tal condenado à não relação sexual, pois ele aí ex-siste exatamente como resposta a uma falta instalada no mais íntimo do Outro. Este sujeito só se sustenta enquanto desejante se instala, neste lugar, um objeto ao mesmo tempo íntimo e estranho mas marcado pelo significante: o objeto ‘a’ causa de desejo. Ora, esta marca, este -ϕ é a própria presença da castração, que se mantém sob a barra. Este é o impasse do obsessivo, pois se ele cede ao desejo terá que se admitir como faltoso, por isso ele tenta uma operação de positivação da castração estabelecendo a transformação do -ϕ em ϕ fazendo com que cada objeto seja capaz de entrar na dialética da oblatividade sob a forma de significantes que, hipoteticamente, poderiam completar o Outro lhe anulando toda demanda. Assim, o matema poderá ser escrito:
$ <> ϕ —— A
$ <> ϕ —— A
onde um sujeito acredita que o que tem poderá servir completamente à demanda do Outro, de tal forma que ela será anulada e o Φ (significante do desejo) será para sempre abolido. Esta situação pode ser exemplificada por uma fala que freqüentemente escutamos em nossos consultórios: “Se eu fizesse um pouco mais...” “Se me esforçasse mais...” “Mais um pouco de paciência e eu vou conseguir, desta vez é pra valer…” O que se verifica é um saber que nunca vai “dar conta” do tudo para o outro.
Neste ponto trago-lhes uma imagem.
Trata-se de um quadro do pintor italiano Domênico Fetti, que pertencia à coleção de Luís XIV e que se encontra no Louvre. O nome desta obra: “Melancolia”. Neste quadro o artista retrata um jovem debruçado sobre uma mesa de estudos, um dos braços sustentando sua cabeça que se apresenta como extremamente pesada e a outra, apoiando-se sobre um grande livro fechado. Ele segura um crânio para o qual olha fixamente, como que hipnotizado pelas órbitas vazias. Pelo chão, dando a impressão de terem sido abandonados pelo jovem estudioso, encontram-se livros abertos com páginas amassadas e um cachorro que observa o torso retorcido da estátua de um homem sem cabeça.
Dizia-lhes das dificuldades de um analista em fazer incidir sobre um sujeito que se coloca, mesmo que momentaneamente, não em relação a um Outro, mas sim petrificado, congelado diante do objeto, do vazio destas órbitas onde o olhar desaparece por não poder ser, neste ponto onde o sujeito se esvai, o objeto ‘a’ como vida, como causa de desejo. Sabemos que o que confere ao objeto esta condição, descrita por Miller como um objeto de gozo vivo, é exatamente a marca do significante fálico que, propiciando uma volta a mais, faz deslizar a curva da satisfação pulsional(25). Como enfatizei no início deste texto, Freud já nos dizia que, na melancolia vamos encontrar uma defusão das pulsões, deixando a céu aberto o silêncio da pulsão de morte. A imagem do quadro de Domênico Fetti nos mostra este silêncio e a impotência do saber para deslocar o sujeito deste lugar.
Resta-nos então uma pergunta: Como intervir para que este ponto de silêncio, este ponto de fixação possa ser deslocado e o objeto de gozo se transmutar em objeto de vida, objeto causa de desejo propiciando à pulsão fechar o seu circuito?
Após um longo período onde o silêncio imperou - aqui me refiro não ao silêncio da falta de palavras, pois na verdade ela falava muito, se queixando todo o tempo, refiro-me ao silêncio da pulsão de morte que, pela fixação de gozo, não permite um movimento pulsional - a paciente relatou situações que apontavam para uma saída do seu estado depressivo. Foi exatamente num destes momentos que um pensamento atravessou seu caminho fazendo escurecer o que havia sido precariamente iluminado. “Estava muito bem até que encontrei meu irmão que está deprimido de novo. Isto me deixou angustiada. Acho que vou ficar deprimida de novo! Isto é uma questão de família: meu pai, minha mãe, minha irmã ... não tem saída para mim!” “É hereditário!” Apenas lhe disse: “porque continuar a linhagem?”
No outro dia, quando retornou, disse que esta pergunta abriu-lhe um novo caminho. Ela nunca havia pensando que poderia ter uma outra possibilidade senão seguir o que lhe mandavam, ou seja, a de se manter colada às insígnias do Outro. A questão colocada pelo analista chegou-lhe como um enigma e provocando um corte, promoveu uma separação entre S1 e S2, desfazendo o sentido que ela sustentava como verdade até então. Esta intervenção abriu espaço, desmanchando a fantasia e, conseqüentemente, vetorizando o objeto ‘a’, causa de desejo:
a ——-> $
S2 // S1
A interpretação que apontou a impossibilidade dela continuar como a que pode salvar sua mãe, só pôde ser eficaz porque aconteceu no contexto do discurso analítico. Em outras palavras, esta frase se apresentou como uma “interpretação Outra”, outra diferente da interpretação do sentido”(26) ao qual este sujeito estava submetido. “A outra interpretação não se reduz ao silêncio isso porque eu a direi habitada de silêncio, nos diz C. Soler, pois ela não diz nada também: ela destaca isso que Lacan chamou, a muito tempo, de significante assemântico, fora da cadeia, vazio de significação, mas pleno de gozo que ele fixa em função de contingências.” (...) “Este corte aí nada faz compreender, reduz a significação, eu poderei dizer que ela castra, não ao proveito do sentido, mas do destacamento dos signos onde o sujeito está assujeitado”(27).
Notas:
1 - Freud, S., “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” in S.E. Vol. VII, The Hogarth Press. London, 1973, pag. 222.
2 - Lacan, J. - “Du ‘Trieb’ de Freud ao Desejo do Analista”, in Écrits, Edition du Seuil, Paris. 1966. Pag. 851
3 - Freud, S., “Rascunho G - Melancolia” S.E. Vol. I, op. cit., pag. 200.
4 - Ibidem
5 - Idem, - “Mournig and Melancholia” S.E. Vol. XIV, The Hogarth Press, 1973, pag. 246
6 - Idem, - “O Eu e o Isso”, S.E. XIX, op. cit. pag. 28.
7 - Ibidem, pag. 40.
8 - Ibidem, pag. 42.
9 - Idem, pag. 258.
10 - “A perda de um objeto amoroso é uma excelente oportunidade para que a ambivalência das relações de amor se tornem efetivas e venham à luz. Onde há uma disposição para neurose obsessiva o conflito devido à ambivalência dá o molde patológico ao luto e o força a expressar-se na forma de auto-acusações produzindo, como efeito, tornar o que está de luto culpado pela perda do objeto, i.e. que ele desejava isto.” (Freud, S,. op. cit., pag. 250)
11 - Miller, J. A., “Silet” curso do dia 29/03/95
12- Lacan, J., “Le Séminaire VIII - Le Transfert”, Ed. Du Seuil, Paris, 1991, pag. 298.
13 - Grifo meu.
14 - Lacan, J., “Le Séminaire VIII - Le Transfert”, op. cit. pag. 241
15 - Ibidem, pag. 298
16 - Soler, C., “As modalidades da transferência” in “Artigos Clínicos”, Ed. Fator, Salvador, 1991, pag. 18.
17 - Lacan, J., “Le Séminaire VIII”, op. Cit., pag. 305.
18 - Freud, S., “Mournig and Melancholia”. S.E. vol. XIV. The Hogarth Press. London, 1973. Pag. 244.
19 - Ibidem, pg. 245.
20 - Ibidem
21 - Miller, J. A., “Silet” Curso do dia 17/05/95.
22 - Freud, S., “The ego and The id”, S. E. Vol. XIV. Op. Cit. Pag. 28.
23 - Ibidem, Pag. 253.
24 - Ibidem, Pag. 249.
25 - “La jouissance phalique est au joint du symbolique et du réel, hors de l’imaginaire, du corps, en tant que quelque chose que parasite les organes sexuels.” Lacan, J., - “Conference - Yale University, Law School Auditorium, 25/11/75, In Scilicet 6-7, Seuil, Paris, 1976.
26 - Soler, C. “Silences” in Revue de Psychanalyse - La Cause Freudienne nº 32, pag. 30
27 - Ibidem
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