01.09.2020
O fundamental é que o Outro como completo, como consistente, não existe. Para poder reafirmar isto, Lacan construiu a topologia das superfícies e a topologia dos nós. Todas elas são uma topologia de ‘A’, que toma por base o fato de que o Outro não existe.
02.09.2020
Partindo da relação do sujeito com Outro, constatamos que o “Desejo do homem é o desejo do Outro”, e que a interpretação, no seu termo, vai apontar o desejo, ao qual, em um certo sentido ela é idêntica. O desejo, é em suma, a interpretação ela mesma. O desejo vai se situar “em relação a um sujeito definido por sua articulação com o significante” S(A/).
03.09.2020
Se há um saber que faz toda a diferença, é que, diante da reciprocidade demandada na relação amorosa que se estabelece na transferência o psicanalista sabe que há uma dissimetria fundamental: ele não tem o que lhe é pedido.
04.09.2020
É pela via do saber que começa uma análise e neste começo está a transferência: o amor ao saber que tem como causa a esperança de que seja devolvido, ao sujeito em questão, a sua certeza de ser na singularidade própria de seu sintoma.
05.09.2020
Uma interpretação não é aberta a todos os sentidos, mas ao Real que constitui o núcleo do sintoma. Este Real que aí se coloca como uma pedra no caminho impedindo que as coisas andem.
06.09.2020
Não nutrir o sintoma para que este prolifere, ou como usualmente escutamos: não responder às demandas do sujeito em análise propiciando a ele a oportunidade de escutar por detrás dos ditos, é função do Psicanalista.
07.09.2020
J-A Miller, em seu curso “Silet”, nos lembra que uma intervenção preciosa do analista é seu eventual ‘sem acordo’ (pas d’accord), pois no inconsciente não há a menor possibilidade de uma harmonia, muito menos de uma negociação, pois falta o significante que poderia estabelecer a proporção sexual.
09.09.2020
A presença do significante enquanto tal aponta para uma “falta no universo”, nos dizendo que é a função da falta que suporta toda noção mesmo de estrutura ligada à linguagem. O Outro da linguagem é, por essência, faltoso nos dizendo que não existe uma garantia última: não há Outro do Outro.
10.09.2020
A função de um analista, num primeiro momento, podemos resumi-la dizendo que consiste em transformar o que lhe chega como queixa em sintoma analítico. Operação necessária porque o sujeito da queixa se apresenta mostrando uma certa distância entre o que ele deseja a nível das identificações e os efeitos próprios do sintoma.
11.09.2020
J-A Miller em seu seminário de 09.05.90, nos ensina que os escritos de Lacan dividem seu ensino em duas partes e terminam por uma exaltação da verdade, com o texto “A Ciência e a Verdade”. Na primeira fase deste ensino a verdade é colocada em oposição ao saber pelo seu caráter nascente na palavra. Ela corresponde à verdade da castração. Já na 2a fase, a verdade não é mais formulada no singular e torna-se uma variável.
12.09.2020
Em 1973, na “nota italiana”, Lacan vai opor ao horror de saber, o desejo de saber do psicanalista”.
13.09.2020
A psicanálise é o que se espera de um psicanalista” nos diz Lacan no seu seminário XVII, e continua “e o que se espera de um psicanalista é que faça funcionar seu saber em termos de verdade.. É bem por isso que ele se confina num meio-dizer”.
14.09.2020
No inicio da psicanálise muitos pensavam que o inconsciente era um não sabido que iria se tornando cada vez mais sabido. No entanto, a introdução do objeto pequeno “a” por Lacan, vai nos dizer de uma exteriorização do não-sabido que escapa à cadeia significante e se coloca radicalmente excluído dela.
15.09.2020
Fazer operar o objeto “a” enquanto semblante no Discurso do Analista é tarefa a ser sustentada por um psicanalista. Em outras palavras podemos dizer que é preciso que exista um psicanalista e este psicanalista só existe na medida em que se colocando como ponto fora da linha, faz operar o vazio onde uma verdade poderá ser transmitida e não um saber ser ensinado.
16.08.2020
O que se transmite na experiência psicanalítica se faz em ato, ato analítico que, preparado pelo amor de transferência se conclui ali onde um sujeito deverá advir. Esta operação que tem como pivô o Sujeito Suposto Saber e por objetivo a destituição deste sujeito suposto, só se sustenta pelo desejo do analista.
17.09.2020
É o amor de transferência que possibilita, enquanto signo, o giro do Discurso da Histeria para o Discurso do Analista.
18.09.2020
O ato analítico, enquanto puro não-sentido, institui um dizer e cria um fato, onde o axioma da existência – que Lacan traduziu por “Há do UM” (Y a d’l’ UN) – aponta todo o tempo para a infinitização do desejo, fazendo valer o consentimento com a castração como saída do Édipo.
19.09.2020
Quando ocorre um ponto de estagnação durante o tratamento é porque a transferência está operando enquanto resistência. Momento crucial onde o ato não deve faltar pois somente um ato vai fazer restaurar a função do objeto “a” enquanto semblante. E não deve faltar sob pena do analista, então, se apresentar como presença maciça, fixa, entravando a espontaneidade da fala.
20.09.2020
Freud já nos esclareceu que estes pontos de resistência, pontos de silencio que acontecem quando a associação livre é interrompida, são a consequência do analista estar ocupando um lugar destacado no pensamento do analisante.
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