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quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Stories do Facebook IV - 01 a 20 de Setembro 2020

 01.09.2020


O fundamental é que o Outro como completo, como consistente, não existe. Para poder reafirmar isto, Lacan construiu a topologia das superfícies e a topologia dos nós. Todas elas são uma topologia de ‘A’, que toma por base o fato de que o Outro não existe.


02.09.2020


Partindo da relação do sujeito com Outro, constatamos que o “Desejo do homem é o desejo do Outro”, e que a interpretação, no seu termo, vai apontar o desejo, ao qual, em um certo sentido ela é idêntica. O desejo, é em suma, a interpretação ela mesma. O desejo vai se situar “em relação a um sujeito definido por sua articulação com o significante” S(A/).



03.09.2020


Se há um saber que faz toda a diferença, é que, diante da reciprocidade demandada na relação amorosa que se estabelece na transferência o psicanalista sabe que há uma dissimetria fundamental: ele não tem o que lhe é pedido.


04.09.2020


É pela via do saber que começa uma análise e neste começo está a transferência: o amor ao saber que tem como causa a esperança de que seja devolvido, ao sujeito em questão, a sua certeza de ser na singularidade própria de seu sintoma.



05.09.2020


Uma interpretação não é aberta a todos os sentidos, mas ao Real que constitui o núcleo do sintoma. Este Real que aí se coloca como uma pedra no caminho impedindo que as coisas andem.




06.09.2020


Não nutrir o sintoma para que este prolifere, ou como usualmente escutamos: não responder às demandas do  sujeito em análise propiciando a ele a oportunidade de escutar por detrás dos ditos, é função do Psicanalista. 



07.09.2020


J-A Miller, em seu curso “Silet”, nos lembra que uma intervenção preciosa do analista é seu eventual ‘sem acordo’ (pas d’accord), pois no inconsciente não há a menor possibilidade de uma harmonia, muito menos de uma negociação, pois falta o significante que poderia estabelecer a proporção sexual.


09.09.2020


A presença do significante enquanto tal aponta para uma “falta no universo”, nos dizendo que é a função da falta que suporta toda noção mesmo de estrutura ligada à linguagem. O Outro da linguagem é, por essência, faltoso nos dizendo que não existe uma garantia última:  não há Outro do Outro. 


10.09.2020


 A função de um analista, num primeiro momento, podemos resumi-la dizendo que consiste em transformar o que lhe chega como queixa em sintoma analítico. Operação necessária porque o sujeito da queixa se apresenta mostrando uma certa distância entre o que ele deseja a nível das identificações e os efeitos próprios do sintoma.


11.09.2020


J-A Miller em seu seminário de 09.05.90, nos ensina que os escritos de Lacan dividem seu ensino em duas partes e terminam por uma exaltação da verdade, com o texto “A Ciência e a Verdade”. Na primeira fase deste ensino a verdade é colocada em oposição ao saber pelo seu caráter nascente na palavra. Ela corresponde à verdade da castração. Já na 2a fase, a verdade não é mais formulada no singular e torna-se uma variável. 


12.09.2020


Em 1973, na “nota italiana”, Lacan vai opor ao horror de saber, o desejo de saber do psicanalista”.


13.09.2020


A psicanálise é o que se espera de um psicanalista” nos diz Lacan no seu seminário XVII, e continua “e o que se espera de um psicanalista é que faça funcionar seu saber em termos de verdade.. É bem por isso que ele se confina num meio-dizer”.


14.09.2020


No inicio da psicanálise muitos pensavam que o inconsciente era um não sabido que iria se tornando cada vez mais sabido. No entanto, a introdução do objeto pequeno “a” por Lacan, vai nos dizer de uma exteriorização do não-sabido que escapa à cadeia significante e se coloca radicalmente excluído dela.  




15.09.2020

Fazer operar o objeto “a” enquanto semblante no Discurso do Analista é tarefa a ser sustentada por um psicanalista. Em outras palavras podemos dizer que é preciso que exista um psicanalista e este psicanalista só existe na medida em que se colocando como ponto fora da linha, faz operar o vazio onde uma verdade poderá ser transmitida e não um saber ser ensinado.



16.08.2020


O que se transmite na experiência psicanalítica se faz em ato, ato analítico que, preparado pelo amor de transferência se conclui ali onde um sujeito deverá advir. Esta operação que tem como pivô o Sujeito Suposto Saber e por objetivo a destituição deste sujeito suposto, só se sustenta pelo desejo do analista.


17.09.2020


É o amor de transferência que possibilita, enquanto signo, o giro do Discurso da Histeria para o Discurso do Analista.

18.09.2020


 O ato analítico, enquanto puro não-sentido, institui um dizer e cria um fato, onde o axioma da existência – que Lacan traduziu por “Há do UM” (Y a d’l’ UN) – aponta todo o tempo para a infinitização do desejo, fazendo valer o consentimento com a castração como saída do Édipo.


19.09.2020


Quando ocorre um ponto de estagnação durante o tratamento é porque a transferência está operando enquanto resistência. Momento crucial onde o ato não deve faltar pois somente um ato vai fazer restaurar a função do objeto “a” enquanto semblante. E não deve faltar sob pena do analista, então, se apresentar como presença maciça, fixa, entravando a espontaneidade da fala.


20.09.2020


Freud já nos esclareceu que estes pontos de resistência, pontos de silencio que acontecem quando a associação livre é interrompida, são a consequência do analista estar ocupando um lugar destacado no pensamento do analisante.


terça-feira, 1 de setembro de 2020

Stories do Facebook III - 01.08.2020 a 31.08.2020

01.08.2020


A Psicanálise pode levar um sujeito a querer o que deseja e, assim, assumir uma responsabilidade onde antes esperava uma garantia. Responsabilidade que se verifica como a única posição política possível


02.08.2020


O sem-sentido, que habita o núcleo da fantasia, é o responsável pela paralisia do sujeito diante de uma frase. No exemplo que Freud constrói, a frase é: “bate-se numa criança”. O sujeito se detêm diante dela, na ânsia de restabelecer um elo perdido entre o sem-sentido que ela aponta e o Outro do discurso.




03.08.2020


O sintoma é um gozo exilado no deserto do corpo, de cuja existência só encontramos uma cifra que se oferece a decifração na esperança de que uma verdade seja desvelada. O ato analítico  pode desfazer essa articulação abrindo espaço a uma nova cifração que acontece a partir do momento em que uma retificação pulsional é feita. 


04.08.2020


O recalque incide sobre um significante que nomeia uma pulsão e se apresenta em seu caráter intratável, rebelde e refratário ao laço social. No entanto, este mecanismo falha e o sintoma vai surgir como uma forma de inscrever o que insiste como marcas da singularidade do sujeito e de suas fixações


06.08.2020



É o objeto pequeno “a” que se apresenta no vazio em torno do qual a pulsão faz seu circuito desenhando uma escritura que aponta a repetição do sintoma. 


07.08.2020 


  O final de uma análise se define pela transformação de um significante que, destacando-se do conjunto pleno de sentido, vai produzir um sem sentido, nos dizendo de uma pequena ponta do real que retorna ao sujeito, deslocando-o da posição que, até então, sustentava. 



08.08.2020


Uma nova aliança acontece ao final de uma análise pela revitalização da marca (letra) do Nome Próprio propiciando um “saber aí fazer com o sintoma”. “Saber aí fazer com o sintoma” se constitui em uma das fórmulas possíveis da liberdade.



09.08.2020


Uma interpretação produz um significante novo capaz de transmitir o que do encontro com o real foi elaborado. Em outras palavras, é quando se desvela o dizer que estava esquecido por trás dos ditos.



10.08.2020


O final de uma análise acontece no momento em que o significante que sustentou a transferência abre espaço para que o objeto causa de desejo possa reinar, abrindo uma nova relação ao saber e ao consentimento com seu modo próprio de gozo. 



11.08.2020


“Entrevistas Preliminares”

Blog clinicalcaniana.blogspot.com

12.08.2020


A identificação da qual se trata, quando falamos em final de análise, é à letra do sintoma, àquela que, uma vez rompido o circuito pre-estabelecido pelo sentido congelado da fantasia fundamental, poderá tornar- se um traço que desvela alíngua como corpo do simbólico e enlaça o corpo do imaginário ao corpo do real fazendo consistir os três termos Real, Simbólico e Imaginário.


13.08.2020


É a partir de um sintoma, ou melhor da falha de um sintoma, que um sujeito vem se candidatar à análise. Podemos dizer que mesmo assim, não está ainda estabelecida uma demanda de análise. É tarefa do analista trabalhar para que o sintoma que o sujeito traz se torne um sintoma analítico, onde o analista estará incluído a partir mesmo da transformação deste sintoma em uma questão que Lacan define como sendo um “Que queres” (CHE VUOI?).


14.08.2020

  

  A transferência se sustenta em um significante qualquer que se destaca na fantasia de quem busca um analista, mas que, por isso mesmo, não é qualquer significante. É um significante que vai sustentar todo o processo a partir da estrutura sintomática, construída pelos significantes que são postos em cena na fantasia fundamental.


15.08.2020


  Sócrates, antes de beber a Sicuta teria dito que deixava o corpo para viver a liberdade do espirito. Assim penso ser um espetáculo de dança. Uma tentativa de matar os parâmetros simbólicos do corpo através das imagens dos movimentos, libertar a alma. Uma liberdade da imagem nos limites da transmissibilidade da palavra.


16.08.2020


  Podemos acompanhar Lacan pelos caminhos hegelianos que marcaram os primórdios de seu teorizar, para vê-lo chegar ao que chamou os enganos de Hegel ao nos dizer que, no final do caminho, o que o Espírito poderá encontrar não será nunca o Saber Absoluto, mas sim uma fronteira fechada, marcando claramente que “a verdade não é mais do que aquilo do qual o saber não pode aprender senão ao fazer agir suaignorância”. (Lacan, J. ,Écrits, pág. 798): é o ser do sujeito que a dúvida cartesiana marca com uma divisão entre o saber e a verdade.


17.08.2020


  A eficácia é a qualidade daquilo que produz o efeito desejado. No que diz respeito à interpretação, vamos delineá-la, com Lacan, como tendo a estrutura de um saber enquanto verdade, e se situando em algum lugar entre um enigma, que é o que podemos chamar de uma enunciação da qual encarregamos que façam enunciado, e uma citação, que colocamos como sendo um enunciado solidamente apoiado no nome de um autor.


18.08.2020


  A elaboração teórica de Lacan vai no sentido de Freud para aí reconquistar o inusitado, restabelecendo o fio cortante de sua verdade na construção de conceitos graças aos quais o psicanalista poderá se referenciar na sua prática para dar conta de seus atos. Graças a isso a psicanálise tem chance de sobreviver.


19.08.2020


Pode-se dizer que um sujeito procura a psicanálise no momento em que se torna insuportável para ele sua divisão entre saber e verdade. Isto se dá no ponto onde o deslizamento metonímico da cadeia significante se interrompe: “as coisas até aqui caminharam, nos diz alguém, mais não sei porque pararam de andar e até pioraram”. 


20.08.2020


É por conseguirem um tipo de satisfação no sintoma que, muitas vezes  o sujeito pode se dar muito mal. Até certo ponto é este "mal-a-mais" a única justificativa de uma intervenção psicanalítica, para que ao nível da pulsão este estado de satisfação possa ser  retificado.



21.08.2020


É no ponto em que o saber constituído do sintoma deixa de obturar a verdade da qual o sujeito não quer nada saber, que vamos ver nascer uma demanda de análise e com ela a transferência.



22.08.2020


Freud já nos esclareceu que  os pontos de silêncio que acontecem quando a associação livre é interrompida são a consequência do analista estar ocupando um lugar destacado no pensamento do analisante. Mas cumpre ressaltar que estes momentos de estagnação, longe de serem tempos mortos, perdidos para o sujeito, são, ao contrário, intervalos onde desponta um material específico, aquele da relação ao objeto que nos diz da fantasia fundamental.




23.08.2020


É a interpretação, enquanto um ato analítico, que permite saber para além da significação a qual significante o sujeito está submetido.  


24.08.2020


Nas coisas do amor é preciso que se tenha no mínimo três: Um, o amor e o outro.

Isto não escapa a Sócrates que, no final da fala de Alcebíades – que fica entre uma declaração de amor e uma difamação – possa dizer: “Isso não é para mim que tu falas, é para Agatão.”

Temos aí o que Lacan diz ser a primeira interpretação analítica, apesar de Sócrates, ainda segundo Lacan, ser o “divino histérico”, e não o analista de Alcebíades...


25.08.2020


No seu Seminário 8, Lacan nos alerta quanto aos “modelos antigos” de se teorizar a psicanálise que apontam para a intersubjetividade, pois o que vemos articulado na natureza do amor de transferência, e que se apresenta como ponto de virada, é exatamente esse elemento terceiro da relação do sujeito ao significante: o objeto. Objeto este que assume as funções do ágalma.


26.08.2020


No Seminário XX, “Mais Ainda”, Lacan nos diz que o objeto “a” não é nenhum ser; o objeto “a” é isso que se supõe de vazio numa demanda. 



27.08.2020


É numa frase que um ser de desejo se sustenta e é sustentando o vazio da demanda que vamos nos assegurar que o sujeito fale, pois, afinal de contas: “não nos interessa , com diz Lacan, o por que sua filha é muda; o que nos interessa é que ela fale.”



28.08.2020


O ágalma, este objeto que sustenta a vida amorosa, se transforma no amor de transferência em objeto causa de desejo, que terá como produto um significante novo. Um analista!


29.08.2020


Desde o primeiro momento, no seu  Seminário  XI, escutamos Lacan dizer que o Sujeito é, antes de tudo, faltante. A ele falta o significante que o designaria e que lhe daria, de uma vez por todas, a sua identidade; falta-lhe um pouco de ser que lhe daria alguma consistência. O sujeito do inconsciente é vazio, ou seja, nem significante, nem ser, mas dividido, marcado pela barra $, a mesma que, na teoria dos conjuntos, indica um conjunto vazio.


30.08.2020


A transferência está no início do tratamento e se instala aí na tentativa de, atribuindo a um Outro o saber que lhe falta, alcançar uma resposta que seja o saber último sobre esta sua verdade. É o Sujeito Suposto Saber que surge, fazendo valer um significante qualquer como aquele onde um sujeito poderia ser representado.


31.08.2020


À psicanálise é dada a responsabilidade de recolher o efeito de verdade que responde à produção de um saber novo pela ciência. A este efeito de verdade, Freud deu o nome genérico de mal-estar.


segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Entrevistas Preliminares

 

Falar da primeira entrevista ou das entrevistas preliminares, como prefiro chamar, com Lacan, a este período que compreende a chegada do paciente ao consultório do analista e a entrada em análise, não é sem dificuldades.

A primeira delas consiste em transmitir-lhes algo sem que, contudo, isto fique aí como normas ou regras a serem seguidas. O próprio Freud, quando escreveu a série de textos que estão agrupados sob o título de “técnica”, várias vezes levantou estas questões, preferindo chamar de recomendações e não regras e afirmar que não se aventurava a negar que um outro médico pudesse adotar atitudes diferentes, não só em relação a seus pacientes, mas como em relação à tarefa que têm pela frente.

No entanto, alguns pontos marcam um trajeto que deve ser respeitado, se queremos chamar de psicanálise o que vamos iniciar. Desta forma, já desde o início, é preciso fazer valer a regra fundamental, que é a Associação Livre, convidando o candidato à análise a dizer tudo aquilo que lhe vem à mente, por mais sem sentido que possa parecer e por mais que a censura diga não. Um pequeno parêntese para dizer que isto que é chamado de Associação Livre, na verdade, não é nada livre, pois obedece a toda uma trama de ligações e deslocamentos que são predeterminados. É por ser assim que a Associação Livre acaba por nos levar ao ponto onde está aprisionado o sujeito em questão.

Fazer valer a regra fundamental da análise, sem contudo, estar o sujeito em análise é um paradoxo que se estabelece neste momento.

Uma das consequências de se adotar este procedimento já desde o início, é que toda aquela parafernália do chamado contrato terapêutico amarra todas as possibilidades do fator surpresa, elemento importante e eficaz desta tática terapêutica.

O que acontece é que cada uma destas questões práticas, vão sendo colocadas a medida em que as situações ocorrem, sem serem postas como normas rígidas. Por exemplo ao final de uma sessão, cobra-se por ela e solicita-se que o paciente retorne numa próxima vez...

Essa maneira de ver as coisas desloca a função das entrevistas preliminares para outros objetivos.

 

É a partir de um sintoma, ou melhor da falha de um sintoma, que um sujeito vem se candidatar à análise. Podemos dizer que mesmo assim, não está ainda estabelecida uma demanda de análise. É tarefa do analista trabalhar para que o sintoma que o sujeito traz se torne um sintoma analítico, onde o analista estará incluído a partir mesmo da transformação deste sintoma em uma questão que Lacan define como sendo um “Que queres” (CHE VUOI?).

A questão diagnóstica é importante pois vai definir a direção do tratamento, seus limites e objetivos.

Por isso é tão importante, às vezes, prolongarmos um pouco mais as entrevistas preliminares, até que possamos ter claro qual a estrutura clínica se encontra sustentando o sintoma apresentado, se uma neurose, uma perversão ou uma psicose.

A transferência nos aponta para a situação analítica propriamente dita. No começo da psicanálise está a transferência nos diz Lacan, e o seu pivô é o Sujeito Suposto Saber. É verdade que quando alguém procura um analista é porque algo da ordem da transferência já existe. Esta transferência está dirigida ao saber que é suposto se encontrar ali, naquele que se oferece para escutar um sujeito. Ela se sustenta em um significante qualquer que se destaca na fantasia de quem busca um analista, mas que por isso mesmo, não é qualquer significante. É um significante que vai sustentar todo o processo a partir da estrutura sintomática, construída a partir dos significantes que são postos em cena pela fantasia fundamental. Ele vai reinar no processo até o ponto em que não se fizer mais necessário. Neste momento convém assinalar que, se por acaso o analista que está sendo investido por esse significante da transferência optar por encarná-la, o trabalho estará fadado ao insucesso. Em outras palavras, a transferência não é uma função do analista, mas sim do analisante.  A função do analista é saber utilizá-la. Assim, enquanto fazendo parte da estratégia fundamental da análise, a transferência é o que vai sustentar a báscula do discurso do candidato à análise em analisante, a partir mesmo da não-resposta do analista que, de sua posição  não sustenta um todo saber, nem tampouco a ideia de compreender o paciente, mas sim de saber que está em jogo o mal entendido, estabelecendo assim uma dissimetria fundamental o que permite ao analista, poder retornar este mal-entendido sobre o próprio sujeito que fala, devolvendo-lhe sua própria mensagem invertida.

Desta forma fica claro que a função do analista é sustentar a função da fala no campo que é o da linguagem, tendo por princípio que o inconsciente é estruturado como uma linguagem.

domingo, 2 de agosto de 2020

Stories do Facebook - II


10.07.2020

Atribuir a um Outro o que lhe falta é a base da relação amorosa por excelência: ama-se no Outro o “agalma”, objeto precioso, essência de um ser-em-falta que se ilude na reciprocidade do amor.
Em se tratando da transferência, no entanto, vemos uma dissimetria colocada a priori já que nesta relação há pelo menos um que quer a mudança, há pelo menos um que calcula e, ao recusar o lugar de amante que lhe é oferecido responde, por seu não-saber, com um Che Voui ?, um desejo de saber.

11.07.202i0
O sujeito nasce como efeito de um menos, um menos de gozo que advém da extração que o significante opera no campo do Outro. Esta operação instala, necessariamente, um certo mal-estar, um certo incomodo que vai gerar um movimento de busca incessante, ali mesmo onde algo se perdeu. É a partir deste ‘menos’, portanto, que se inicia o que Lacan denominou, de Automaton - a repetição da impossibilidade na cadeia significante. 

12.07.2020

É a partir da incidência da castração, do “não do Pai”, que o sintoma vai surgir como tentativa de restabelecer o laço entre o sujeito e o Outro. Neste sentido, podemos dizer que o sintoma é uma solução para evitar o encontro com a castração.

13.07.2020

O sintoma pode ser definido como “o resultado de um conflito, que surge em virtude de um novo método de satisfazer a libido. As duas forças que entraram em luta encontram-se novamente no sintoma e se reconciliam, por assim dizer, através do acordo representado pelo sintoma formado.

15.07.2020

Partindo da premissa estrutural de que não há relação entre o sujeito e o Outro, o sujeito está, desde sempre, afastado de sua verdade. O laço possível, entre o sujeito e o Outro, se faz pelo sintoma. E se faz, com a criação de um “ser de saber” ali, onde a verdade lhe está vetada.


16.07.2020

Estrutura de ficção, queixa, sofrimento, não importa como a ele nos referimos, a verdade é que o sintoma é o que vai dizer de algo que não vai bem e o “clamor da humanidade” é pelo apaziguamento do mal-estar que isso provoca.
Por isso é fundamental que o analista não ceda de seu desejo.


17.07.2020

O sintoma é o que cada tem de mais particular, e também o de mais real. Por isso o sujeito neurótico se apega tanto a ele, como possibilidade única, de fazer frente ao que lhe está prescrito pelo Outro. 

18.07.2020

Ao diferenciarmos o lugar do analista, do lugar do terapeuta, estamos dizendo que nosso compromisso não é com o movimento humanitário que, com seu clamor, espera poder uniformizar o que há de mais particular. Nosso compromisso é com a particularidade de cada um.

19.07.2020

O “Estilo” é o objeto ‘a’ enquanto marcado pelo traço unário e pela incidência do “dizer verdadeiro” que deixou uma “ranhura” indelével.

20.07.2020

Com a instalação da transferência acontece o primeiro passo para que a construção de um quadro, de uma cena possa acontecer. O passo seguinte é   estabelecer um saber que possa sustentar um umbral onde um atravessamento poderá ocorrer para que uma identificação ao sinthoma venha traduzir um aí saber fazer.


21.07.2020

Nascemos e vamos, passo a passo a partir da palavra do Outro, construindo um corpo que pode nos fazer representar no mundo. A partir deste corpo, marcado pela linguagem e, também linguagem, estabelecemos um lugar de onde podemos traçar os rumos do desejo que se constitui neste mesmo processo.

22.07.2020

Há, nos movimentos desenhados em um espetáculo de dança uma luta entre o corpo simbólico e a possibilidade de liberdade da
imagem, enlaçados pelo real deste resto que não se desprende e que não é assimilado. Percebe-se aí o que se transmite no vazio de um desejo de quem participa da criação

23.07.2020

Sabe-se que um resto sempre permanece e que pode, quando possível, ser elevado à condição de causa de desejo.
Esta causa, este vazio onde cada um pode colocar algo de seu, acrescentando um a mais ao que a realidade apresenta, é fundamental para fazer caminhar a humanidade. Este algo a mais tem um nome: criatividade!




25.07.2020 

A impossibilidade da relação sexual, que não cessa de se escrever, promove o sintoma como única possibilidade de se fazer laço, ao mesmo tempo que permite uma leitura, uma vez que ele participa de uma escritura, função da letra.

26.07.2020

Quando o recalque falha o que retorna  surge como sintoma, inscrevendo o que insiste como marca da singularidade de um sujeito.

27.07.2020

O sintoma, assim como a cena da fantasia fundamental, nada mais são do que envelopes da pulsão, modalidades de seu exercício, formas que o sujeito busca para apreender um objeto, no campo do Outro, que lhe sirva de parceiro.

28.07.2020

Mais além da teoria que sustenta sua prática, o analista sempre se orienta pelo que pode perceber por trás dos ditos e que se apresenta, simplesmente, como antinômico ao efeito de sentido que se compreende.

29.07.2020

De uma maneira simples, podemos dizer que o momento em que uma análise se conclui é definido por uma transformação de um significante que, destacando-se do conjunto pleno de sentido, vai produzir um sem sentido, nos dizendo de uma pequena ponta do real que retorna ao sujeito, deslocando-o da posição que, até então, sustentava.

30.07.2020

A pulsão é a força Real da fantasia, o que denuncia o limite do sintoma à ação do simbólico.

31.07.2020

O resto que escapa, foge, retorna sob a forma de mal estar e relança o vetor pulsional sempre na direção determinada pelo imperativo do super-eu. Desfazer este circuito, devolvendo ao objeto sua característica de ser qualquer um, mobilizando o seu valor de causa é um dos objetivos de uma análise.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Os destinos do amor ao final de uma análise

“Na transferência, o analista é o sujeito suposto saber e não está errado supô-lo, se ele sabe em que consiste o inconsciente, por ser um saber que se articula com alíngua, não enlaçando-se a este saber, o corpo que ali fala somente pelo real com que se goza”(1)


Em seu primeiro encontro com o Outro, consequência da incidência de um significante, o sujeito tem que lidar com um real que não se subjetiva. Ponto de opacidade, nos diz Lacan, ponto de silêncio que indica o lugar onde poderá se edificar a determinação significante capaz de escrever o fenômeno sintomático, na esperança de se dar conta da impossibilidade que se instala na contingência deste primeiro encontro. 
O sintoma é o que vai representar, manifestar, significar a verdade deste encontro. Verdade que nos diz do real do gozo que é produzido pela inclusão do significante traumático no sujeito.
O sintoma pode ser tomado em duas vertentes: por um lado temos o sintoma como metáfora, na medida em que faz valer um significante do traumatismo, um significante que vai funcionar como um índex da memória do que foi encontrado como traumático. O sintoma como metáfora é um sintoma significante que está conectado ao gozo, sem sê-lo. Por outro lado, se seguirmos o desenvolvimento da teorização de Lacan, vamos tratar o sintoma como função da letra, como signo desta distância insuplantável com o real. É fundamental distinguirmos, aqui, a letra do significante pois esta se relaciona diretamente ao gozo, enquanto o significante está referido ao sentido gozado (jouis-sens). 
Um sujeito entra em análise pela via da transferência e, consequentemente, com a instalação do Sujeito Suposto Saber que é o pivô disto que Freud chamou de sintoma analítico. Esta via coloca em jogo o traço do “Ideal do eu” e sua articulação com a identificação oferecida pelo “eu ideal”. Esta possibilidade de identificação, que se qualifica como identificação ao pai, acontece por que o Sujeito Suposto Saber só faz nomear, explicitar o efeito de sentido que vem do Outro. Em contra partida, o sem-sentido é o que permanece separado do Outro, ficando silencioso neste processo de proliferação do sentido a partir do Sujeito Suposto Saber. Este sem-sentido, que habita o núcleo da fantasia, é o responsável pela paralisia do sujeito diante de uma frase. No exemplo que Freud constrói, a frase é: “bate-se numa criança”. O sujeito se detêm diante dela, na ânsia de restabelecer um elo perdido entre o sem-sentido que ela aponta e o Outro do discurso. Esta frase, podemos dizer, vale por um significante unário, um S1, que leva o sujeito a inquietar-se, a buscar um outro significante que possa fazer as vezes de S2, estabelecendo um sentido qualquer. Mas, existe, neste ponto, um paradoxo, pois este S1, além de não pedir uma outra palavra ou outra frase, um S2, ele se recusa a isso.
Um Sujeito Suposto Saber, portanto, designa a presença de um significante, ou seja, indica um efeito de sentido, enquanto o que denominamos de sentido-gozado (jouis-sens) é o que não pode ser traduzido em significantes, mas desliza sob o sentido da cadeia significante impregnando as respostas do sujeito com o sem-sentido. Este sentido-gozado não é suposto, mas experimentado. Quando acontece de alguém experimentá-lo, apenas julga que está aí e diz: é isso!
Neste ponto é fundamental esclarecermos que, seja qual for a vertente do sintoma que escolhermos, por um lado um “memorial de gozo” (o sintoma como metáfora), e por outro um “cativador de gozo” (o sintoma como função da letra), - até mesmo quando estamos falando da transferência como sintoma analítico -, vamos lidar com um sinal de que alguma coisa não anda pois há um real que se coloca como uma pedra no caminho do sujeito: o real da privação que se explicita no fato de que homens e mulheres, desde sempre, estão privados do elemento que poderia propiciar a escritura da relação sexual. 
Esta impossibilidade, que não cessa de se escrever, promove o sintoma como única possibilidade de se fazer laço, ao mesmo tempo que se permite uma leitura, uma vez que ele participa de uma escritura, função da letra. Por isso J-A. Miller, em seu curso “O Outro que não existe…”(2) nos diz que “o sintoma é uma mentira sobre o real ... especialmente um mentira sobre o real que a relação sexual não existe. (...) É bem por isso que Lacan pode dizer que é o sintoma que nós colocamos no lugar deste Outro que não existe. E, especialmente, é o sintoma que nós colocamos no lugar do outro sexo (...) talvez o único Outro que existe, é o sintoma.”
Há, portanto, um vazio sobre o qual o sintoma se apoia e vai construir seu envelope formal. Vazio que se instala no ponto mesmo em que a presença de um gozo singular, escandaloso foi recusado e recalcado pelo sujeito (Lacan nos lembra, em RSI(3), “O neurótico é alguém que não chega a atingir o que é para ele a miragem onde ele encontrará satisfação, a saber, uma perversão. Uma neurose é uma perversão que falhou - c’est une perversion ratée). Isto que é recalcado, Freud definiu como sendo a pulsão que se apresenta com seu caráter intratável, rebelde e refratário ao laço social. No entanto, este mecanismo falha e o sintoma vai surgir como uma forma de inscrever o que insiste como marcas da singularidade do sujeito e de suas fixações.
O sintoma, assim como a cena da fantasia fundamental, nada mais são do que envelopes da pulsão, modalidades de seu exercício, formas que o sujeito busca para apreender um objeto, no campo do Outro, que lhe sirva de parceiro(4).
Este objeto, que Lacan denominou “pequeno a”, se define a partir dos orifícios do corpo e marcam o ponto por onde o sentido não se deixa apreender nas malhas do discurso. É este objeto pequeno “a” que se apresenta no vazio em torno do qual a pulsão faz seu circuito desenhando uma escritura que situa a repetição do sintoma. 
Agora a clínica:
Uma cena que envolveu o ato de escrever e um olhar definiram um ponto de fixação de gozo, determinando um caminho e estabelecendo uma forma sintomática.
A busca da satisfação passava pelo conquista de ideais determinados pela demanda do Outro que, na impossibilidade de serem atendidas, deixavam permanecer um resto que se repetia no olhar de uma mulher. A marca da falta, presente neste olhar, era buscada como único sinal da existência de um Outro que pudesse ser inscrito na possibilidade da relação sexual. Sintoma que se fez valer, criando uma série cujo ponto de conclusão era postergado infinitamente. 
Lacan nos diz que “O Outro é uma matriz com duas entradas”(5). O objeto pequeno “a” constitui uma destas entradas. E a outra é o Um do significante. Dissolver a presença deste Outro era fundamental para que o sujeito pudesse se livrar das diretrizes que determinavam a fixação do circuito pulsional. 
 O sintoma, por comportar um efeito de sentido, sofre a ação da interpretação. O seu valor de gozo, no entanto, é antinômico ao sentido, só se deixando apreender pelo equívoco, de onde se deduz a função da letra. A redução do sintoma à letra é uma forma de renovar o estatuto do simbólico, resumindo a pulsão à função de furo.
Podemos ler o que acabamos de escrever,
A/ —>($<>a)
A —>   s(A)
tomando o Grafo do Desejo como referência, da seguinte forma: “não existe prática analítica sem que o efeito de sentido esteja parasitado pelo efeito de sentido-gozado.”(6) Esta afirmação implica uma posição ética do analista que se traduz nos seguintes termos: mais além da teoria que sustenta sua prática, o analista sempre se orienta pelo que pode perceber como efeito de sentido-gozado e que se apresenta, simplesmente, como antinômico ao efeito de sentido que se compreende. Em outras palavras, a atenção flutuante do analista deverá ser capaz de captar o que se apresenta como sem sentido dentro de todo o sentido que a palavra nos oferece à compreensão para, exatamente, evitar que o sintoma da identificação venha a se perpetuar. Assim, todas as vezes que manipulamos o significante produzimos sem sentido no sentido à compreender, ao mesmo tempo que o transformamos em sentido para gozar. Este sentido para gozar é o que vai nos tocar, de alguma forma, como por exemplo, no chiste, em cuja estrutura Lacan se inspirou para construir o  dispositivo do Passe. De uma maneira simples, podemos dizer que o momento do passe se define por uma transformação de um significante que, destacando-se do conjunto pleno de sentido, vai produzir um sem sentido, nos dizendo de uma pequena ponta do real que retorna ao sujeito, deslocando-o da posição que, até então, sustentava. Este é o momento em que se produz um significante novo capaz de transmitir o que do sem sentido, ou melhor ainda, o que deste encontro com o real foi elaborado. Em outras palavras, é o momento em que o corpo do significante permanece como um dizer que estava esquecido por trás dos ditos.
Foi sustentando-se nesta ética que a interpretação do analista, (Me refiro aqui ao pequeno fragmento exposto acima), pôde apontar o vazio e, assim, esclarecer o circuito que delimitava o objeto e que estava velado pela interpretação que o inconsciente havia feito do encontro traumático com o Outro sexo.
Este objeto, desde o congelamento do sentido na cena da fantasia fundamental, passou ser incrustado em todos aqueles que apresentassem um traço que pudesse repetir a cena fundamental, nos dizendo de um ponto de fixação pulsional. Ora, a pulsão é a força real da fantasia ao mesmo tempo que denuncia o limite do sintoma à ação do simbólico. O resto que escapa, foge, retorna sob a forma de mal estar e relança o vetor pulsional sempre na direção determinada pelo imperativo do super-eu. Desfazer este circuito, devolvendo ao objeto sua característica de ser qualquer um, mobilizando o seu valor de gozo é um dos objetivos de uma análise.
Neste seu objetivo, a estratégia da qual se utiliza a psicanálise consiste em oferecer, àquele a busca como solução, a possibilidade de que esta cena se repita na transferência, ao instalar, no ponto de não saber, um sujeito suposto saber da significação de seu sofrimento. Esta estratégia, se utiliza do fato de que o inconsciente existe e sua existência se sustenta, exatamente no fato da inexistência da relação sexual e que a sexualidade só se representa no inconsciente pela pulsão. Utilizando-se do objeto pequeno ‘a’, enquanto agalma, pode-se ter entrada ao Outro,  fazendo possível a construção desta cena fundamental, a partir mesmo da determinação de uma constante através da qual o sujeito se relaciona ao real do gozo. Balizada por esta construção, uma interpretação operou separando S1 do S2 e criou um intervalo onde reinava a opacidade própria do gozo do sintoma. Este foi o momento em que aconteceu a produção de um significante que indexou a falta, um nome que estabeleceu novos rumos, fazendo desaparecer os pontos de suspensão sintomáticas  e fazendo intervir a letra como borda ao real.  
O que se transmite do momento do passe e que indica que um analista pode advir no final de uma análise, é o corpo da letra. Assim, partindo do sintoma da identificação, o sujeito vai desconstruindo a palavra até que ela possa assumir o valor de letra, o valor de significante enquanto escrito: S(A/). O $, o verdadeiro significante de A - o que do significante permanece, uma vez que se eliminou a palavra. Esta é a escritura que permite ao ser falante subtrair-se aos artifícios do inconsciente, ao mesmo tempo que deixa claro o que do inconsciente pode se traduzir por uma letra: “que o deciframento se resuma ao que constitui a cifra, ao que faz com que o sintoma seja, antes de mais nada, algo que não cessa de escrever-se do real…”(7) Assim posto, uma nova identificação pode acontecer, uma identificação que não é ao inconsciente. Identificar-se ao inconsciente está fora de cogitação pois, como nos diz Lacan, “o inconsciente permanece, o inconsciente permanece Outro”. A identificação da qual se trata, quando falamos em final de análise, é à letra do sintoma, àquela que, uma vez rompido o circuito pre-estabelecido pelo sentido congelado da fantasia fundamental, poderá tornar-se um traço que desvela alíngua como corpo do simbólico(8) e enlaça o corpo do imaginário ao corpo do real fazendo consistir os três termos Real, Simbólico e Imaginário(9). Esse é o caminho que culmina na transformação da experiência da fantasia fundamental, em pulsão, ao restabelecer o vazio do lugar do objeto pulsional.

 O amor, resposta ao real da não relação sexual, sustentou o trabalho da transferência nesta relação ao Outro do saber, e se esvaziou pela ação da interpretação que desfez o mistério da diferença sexual.  Este foi o momento em que o “analisante fez do objeto ‘a’ o representante da representação de seu analista”(10), abrindo uma nova relação ao saber e ao consentimento com seu modo próprio de gozo. 
Esta passagem estabeleceu uma subversão do sintoma que, a partir de então, passou a se sustentar na alienação, não mais a um Outro do saber, um Outro sem barra, como define Lacan, mas sim ao Outro barrado, marcado pelo silêncio da pulsão.  Podemos dizer que aconteceu uma extração do objeto “a”, como causa de desejo, a partir do gozo que sustentava o sintoma. Como consequência o sujeito, por querer o que deseja, assumiu uma responsabilidade onde antes se esperava uma garantia. Responsabilidade que se verifica como a única posição política possível. Responsabilidade definida, por J-A. Miller da seguinte forma: “Se tudo fosse calculado, então não teríamos mais responsabilidade. Há uma responsabilidade, justamente, porque há um furo e que é necessário cobri-lo pelo ato, decidindo-se em função de seu julgamento íntimo”. 
Onde havia o trabalho de transferência, portanto, aconteceu a transferência de trabalho, dizendo de uma nova aliança com a pulsão. Esta nova aliança só pôde acontecer pela revitalização da marca (letra) do Nome Próprio propiciando um “saber aí fazer com o sintoma”. “Saber aí fazer com o sintoma” se constitui numa das fórmulas possíveis da liberdade. O ‘aí’ marca a suspensão de um ser que vai nomear o saber ou o fazer. É um ser que nomeia o ‘aí’ como o que vai para além de seu nome próprio, um nome para além da imagem de seu nome próprio. (...) É exatamente do nome próprio que nos fala Lacan a partir da fórmula “saber aí fazer com seu sintoma.
Produzido um nome, retificado o circuito pulsional, foi possível dizer ao analista que o endereçamento do sujeito não mais se dirigia a ele, mas sim ao trabalho de transmissão, estabelecendo os parâmetros de uma nova parceria. 

Notas:
1 - Lacan, J. “La tercera” in, Intervenciones y textos, n. 2, Ediciones Manantial, Bs.As. 1988. Pag. 89.
2 - Miller, J-A. L”Autre que n’existe pas et ses comités de éthique” Lição de 18/12/96,
3 - Lacan, J.  “RSI”, Lição de 18/02/75.
4 - Miller, J-A. L”Autre que n’existe pas…
5 - Lacan, J. “RSI” Lição de 21/01/1975
6 - Miller, J-A, Los signos del goce. Editorial Paidos, B. Aires, 1998, pag. 315.
7 - Lacan, J. “La tercera”, op. cit. Pag. 96. 
8 - “Nada, certamente, nos dá, de entrada, a idéia do elemento, no sentido que creio haver mencionado a pouco, sobre o grão de areia ... a idéia do elemento, a idéia acerca de que isso somente podia se contar e, nesta ordem nada nos detém: por mais numerosos que sejam os grãos de areia, já o disse Arquimedes, por mais numerosos que sejam, sempre os podemos calibrar – poi
s bem, tudo isso nos vem somente a partir de algo que não tem melhor suporte que a letra. Porém significa, também, que não há letra sem alíngua”.
9 -  “O significante estando integralmente definido por seu lugar, é im­possível de deslocá-lo; mas é possível deslocar uma letra.O si­gnificante advém somente da instância simbólica; mas a letra enlaça R,S e I, que são mutualmente heterogêneos”. Milner, J.C.,- J. Lacan , Penseé et savoir, in Connaissez-vous Lacan , pag 195
10 - Lacan, J. “Proposition du 9 october 1967.