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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

“O Desejo do Analista é o pivô do tratamento"

Vou destacar uma frase do texto “A direção do tratamento...” com a intenção de retoma-la hoje como ponto central de nosso trabalho: “Cabe formular uma ética que integre as conquistas freudianas sobre o desejo: para colocar em seu vértice a questão do desejo do analista.”
Recentemente trabalhei as conseqüências da demanda do sujeito na sua articulação com a falta no Outro. Foi dito que é neste ponto onde duas demandas se encontram que pode surgir a angústia e, também, é onde se constrói um desejo. A angústia por habitar este ponto, o lugar do desamparo por excelência, só encontra saída no desejo que daí pode advir. O Desejo do Analista, que vai ser o pivô da direção do tratamento, tem também, aí, sua morada. Ele se constrói, como vamos verificar hoje,  na medida em que sustenta a função do Sujeito Suposto Saber como operador. Após um longo trajeto de análise, é possível consentir a suportar o lugar do objeto “a” enquanto causa para que um outro possa fazer o seu próprio percurso.
A expressão, “desejo do analista” não se encontra nos textos freudianos. Esta noção é lacaniana. Freud esteve mais interessado em perguntar “o que quer a mulher?”. A partir mesmo da obra deixada por Freud, Lacan pode se perguntar “o que quer o analista?”
De início é preciso estabelecer uma diferença que, penso, é fundamental: a questão não é o que quer um analista? Se a questão é colocada desta forma, vai-se pender para o lado do “ego” do analista e não da “função” que alguém desempenha enquanto analista.
Ao revisar o que já trabalhamos aqui de várias formas e em várias ocasiões, podemos nos perguntar sobre o princípio que diz que o analista não deve desejar nada para seu paciente. Lembro-lhes que a demanda endereçada ao Outro é sempre uma demanda intransitiva, uma demanda sem objeto: “Aquilo que lhe peço não me dê, pois não é isto”, nos diz Lacan.  Mas, como não é possível nada desejar, a pergunta continua: mas o que faz com que alguém decida assentar-se na poltrona do analista? Serge Cottet nos diz que “supõe-se que ele deseje obter alguma coisa, mas o que? ... Uma confissão, uma palavra? Uma verdade? Uma cura? A partir deste axioma que não se pode não querer desejar sem desejar, o analista é suposto partir ao encontro do desejo inconsciente”. Trata-se, portanto, não de exercitar um poder como sugestão, mas sim de algo que permita ao analista não cair neste engodo: desejo do analista e desejo de um analista.
Para continuarmos trabalhando este tema é fundamental recordar aqui o que sustenta o dispositivo que se coloca em ação quando fazemos a oferta de uma escuta analítica:
1 – O analisante é o sujeito do inconsciente e é o único sujeito em questão neste dispositivo.
2 – Se é verdade que o analista ocupa o lugar do grande Outro (A), do Ideal, no início de um tratamento, ele deve fazer reinar o objeto pequeno “a” a partir mesmo do semblante que ele sustenta para que “o amor que lhe é oferecido, ele não o queira e, a esta demanda de ser amado, ele não ceda.”  
3 – A transferência implica a função do Sujeito Suposto Saber, fundamental para que o trabalho se desenvolva a partir das construções do analista que, segundo Freud, restituem ao sujeito os pedaços de realidade perdidos e, assim, podem destacar a pulsão de suas aderências imaginárias. Esta é a única forma de propiciar a que “o ser do desejo se ligue ao ser do saber para renascer, no que eles atam, numa tira feita da borda única em que se inscreve uma única falta, aquela que sustenta o Algama.
4 – A estes três é preciso acrescentar um quarto elemento, que é o “desejo do analista”.

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