É somente deste lugar, a partir da instalação do amor de transferência, que uma interpretação pode operar. A interpretação que deverá apontar para o vazio, assim como o dedo de São João no conhecido quadro de Leonardo Da Vinci. Em outras palavras, a interpretação, como Freud a apresenta, é onde as pontas que se tem, os clarões de verdade que se tem, podem fazer uma construção. Isso, do lado do analista. Freud nos diz que essa construção deve ser comunicada ao paciente quando convém. Nisso ele se distingue de Lacan que nos apresentou o ato. Do lado do analisante, o mesmo termo de construção se impõe. Fala-se de construção da fantasia fundamental.
O que se objetiva, no final das contas, é uma primeira desarticulação do binário S1-S2 que, enquanto enunciado, enquanto sentido, sustenta sob a barra a relação de um sujeito com um objeto que ele escolheu a partir da interpretação que ele fez do desejo do Outro ($<>a). Objeto esse que ele acredita poder consistir o Outro. A interpretação, portanto, abre um buraco no sentido até então estabelecido. Este vazio cria um estado de desamparo (hilflösigkeit) não deixando outra saída ao sujeito senão o bem-dizer, pois deslocando-se do eixo do enunciado para o da enunciação, ele se depara com a verdade que circula entre o gozo e a castração e que se elabora como uma relação do sujeito à pulsão. É neste ponto, e somente aí, que o sujeito poderá saber da causa de seu desejo, pois pela via da fantasia, esta causa está dissimulada pelos benefícios secundários.
Este é o trajeto que vai preparar o momento em que um ato analítico poderá acontecer e possibilitar a que experiência da fantasia fundamental possa tornar-se pulsão.
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