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quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Da queixa ao sintoma analítico (III)

O discurso do mestre é o discurso do inconsciente. É o discurso que está o tempo todo produzindo sentido. É o discurso do sintoma. É o discurso que mantém sob a barra o sujeito e seu objeto, é o discurso em que normalmente o sujeito chega em nossos consultórios.
No discurso do mestre debaixo da barra está o desejo inconsciente do sujeito, sujeito desejo de objeto. O discurso do analista vai acontecer quando conseguirmos inverter isso, ou seja, passar para cima da barra os elementos que estão escondidos abaixo da barra no discurso do mestre.
Quando Lacan disse que o discurso do analista é o avesso do discurso do mestre, ele tinha em mente a estrutura moebiana. A banda de Moebius é aquela fita na qual se faz uma meia torção e se cola as pontas de tal maneira que podemos percorrer toda a fita sem tirar os dedos de cima dela. Ela é muito interessante porque diz do movimento do discurso do analista. A banda de Moebius tem somente um lado e uma borda , portanto diz muito bem que numa análise só tem um sujeito em questão, o analisante. Ela demonstra bem como sair do discurso do mestre para o discurso do analista  percorrendo um só lado. Assim, topologicamente o discurso do mestre está do mesmo lado do discurso do analista. Se a banda tem um lado só, pode-se chegar ao outro lado, ao seu avesso, sem sair do seu lugar. Ao fazer isso expõe-se a cena que sustenta o sujeito na vida: a cena da fantasia fundamental.
O discurso do analista é pontual porque ele é insuportável. Ninguém consegue estar frente a frente com sua verdade muito tempo e o objeto a é a verdade do falasser do sintoma: é o ser de verdade do sintoma. Lacan define o sintoma como contendo duas partes. Uma  é o ser de verdade que remete ao real da castração, e a outra é o seu invólucro formal: a cadeia de significantes, as palavras, enfim. Então, cada vez que se pronuncia uma palavra,  diz-se da fantasia fundamental. É isso que se chama estilo. A forma que cada um dá ao pouco de realidade que o circunda. 
Sabendo que a estrutura do matema dos discursos traz na sua forma a Banda de Moebius verificamos que ao possibilitar o seu giro vemos passar para cima da barra, no discurso do Analista (a - $), o que está sob a barra no discurso do Mestre ($ - a).

Importante concluirmos dizendo que este giro só acontece se sustentado pelo amor. Pelo amor de transferência. Este amor que se instaura a partir de uma suposição de saber atribuída a quem se oferece como causa. No entanto cumpre ressaltar que esta causa só se sustenta se o analista sabe que o “saber” a ele atribuído, ele não tem. Para isto é preciso fazer operar o desejo do analista. Este desejo construído em análise que propicia ao sujeito do analista ficar fora da cena. Esta é a ética que rege o encontro com um analista.

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