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segunda-feira, 22 de junho de 2020

ENTRADA EM ANÁLISE E O GRAFO DO DESEJO

Em seu texto, “Amanhã a psicanálise”, Michel Silvestre nos diz que “a queixa, quer dizer, a demanda, demanda de análise entre outras, e o sofrimento são duas coisas. Pode-se sofrer – mentalmente – e se recusar a qualquer queixa... Há uma distinção radical entre a queixa e o sofrimento. Ela é radical pois oferece uma escolha ao psicanalista: aquela de tratar a queixa ou de colocar em causa o sofrimento. (...) a queixa é uma fala, o sofrimento é uma paixão (...) o sintoma.” Continua M. Silvestre, “ é isso que claudica, mas é também isso que se soma ao sofrimento para aí fazer uma queixa. O sintoma implica um endereço onde ele se decifra (...) temos, portanto, de um lado, um sofrimento que o sujeito pode suportar com um heroísmo estóico e sem dizer palavra. De outro, os portadores de sintomas que banham seu ambiente com eles, mas sem sofrerem, eles mesmos, absolutamente nada. Na medida em que os dois se conectam na mesma pessoa, isso pode produzir uma demanda de análise.”
Esta longa citação tem como proposta dizer-lhes que é preciso algo mais, talvez o que Lacan chamou de “um-mal-a-mais” para que a nossa intervenção como analista se justifique.
É disto que tratarei agora, tomando como referência o grafo do desejo tal como Lacan o elaborou em sua forma final no texto “subversão do Sujeito e Dialética do Desejo no Inconsciente Freudiano”.

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Comecemos por instalar o sintoma aí mesmo onde Lacan o instalou no seu grafo: s(A) ponto onde a interseção de duas demandas vai produzir a significação do Outro. Este ponto, que vem a ser s(A) somente no “a posterior”, é de onde parte o endereçamento para onde um decifração poderá ocorrer, ao A. “Lugar mais que espaço”, o A tem sua inconsistência estrutural pois traz no seu seio sua própria contradição na forma deste objeto que lhe é o mais íntimo e o mais estranho: o objeto a.
É pois aí, neste ponto de extimidade que denuncia a falta do significante que podeira apaziguar o mal-estar do sintoma é que vamos ver instalar-se o sujeito suposto Saber na esperança de se fazer restaurar a consistência perdida. Este sujeito se faz presente enquanto um significante qualquer que poderia produzir uma representação total do sujeito em questão.
Sabemos, desde Freud, que o fato de um sujeito buscar análise não implica dizer que ele entrou em análise. Este circuito que acabo de lhes descrever pode muito bem permanecer assim de modo circular através de um curto-circuito pelo i(a) que é a imagem especular do objeto e reforçando o eu (moi) para, então, relançar a demanda fechando o circuito.
No entanto, algo precisa acontecer para que este circuito seja interrompido e o vetor seja lançado para o outro andar do grafo, aquele onde Lacan nos diz referir-se à enunciação.
Freud esclarece que, se num primeiro momento o sujeito se coloca a repetir suas experiência para não rememora-las, o fato de as estar rememorando depois de um tempo ainda não é indicativo de que um certo umbral foi ultrapassado para que possamos dizer que está acontecendo uma análise. É somente quando há uma mudança de posição do sujeito na sua relação ao gozo do sintoma que vamos ver acontecer o que Freud chamou de “Durcharbeit” ou perlaboração.
O que vai sustentar esta passagem, ou melhor, este salto, é o desejo do analista. A partir de não responder ás demandas, um vazio vai ser mantido e o sujeito vai, fatalmente, se deparar com sua própria demanda fundamental. É o que nos indica, no grafo do desejo, o matema  $ D.
É neste ponto que o sujeito vai se deparar com sua própria castração e com a questão do Outro que lhe retorna do lugar de onde ele espera um oráculo, sob o libelo de um Che voui? Que queres? É isto que lhe conduz melhor ao caminho do seu desejo.
Este vetor vai completar sua volta esbarrando no matema $ a  que Lacan diz ser a maneira como o desejo se articula para o sujeito. É esta a interpretação que se faz da falta no Outro S(A/)   e que põe a nu a estrutura que sustenta, na sua articulação, o desejo do sujeito em questão.
É assim que uma análise pode acontecer e uma retificação a nível da pulsão, que sustenta a articulação do sujeito e seu objeto, pode ser feita Uma nova interpretação do encontro com Outro surge, então, no horizonte promovendo uma nova aliança pulsional e abrindo para o sujeito a possibilidade dele exercitar a mais humana das condições: a possibilidade de escolher. Poder escolher é o que diferencia a pulsão, tal como Freud a apresenta, do instinto, onde não esta colocada nenhuma possibilidade de escolha.

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