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quarta-feira, 8 de julho de 2020

Stories do Facebook - I

07.05.2020

J. A. Miller em seu artigo sobre "As saídas de Análise" nós diz que “poderíamos nos perguntar se não há sempre, em certo sentido, uma segunda entrada em análise. O sujeito entra em análise antes de efetivamente saber o que é uma análise; por isso é necessário que o analista intervenha para confirmar sua opção".
A confirmação desta opção, acredito, não se faz pela via do saber, mas sim por um consentimento com a experiência do inconsciente. Quando me refiro a consentimento, tenho em mente o que Lacan nos diz em seu Seminário VII - A Ética da Psicanálise: quando, uma vez cumprido o ato do assassinato do pai da horda primitiva, "se instaura um consentimento inaugural que é um tempo essencial na instituição da lei, quanto à qual a arte de Freud será vinculá-la ao assassinato do pai, de identificá-la à ambivalência que então funda as relações do filho com o pai, isto é, ao retorno do amor após efetuado o ato."

08.06.2020

Não nutrir o sintoma para que este prolifere, ou como usualmente escutamos: não responder às demandas do analisante propiciando a ele a oportunidade de escutar por detrás dos ditos, é função do analista. Uma interpretação não é, pois, aberta a todos os sentidos mas ao real que constitui o núcleo do sintoma e aí se coloca como um x impedindo que as coisas andem. 

09.06.2020

Um sujeito procura análise porque o saber constituído de seu sintoma claudica. Este é o momento em que “o sintoma se apresenta como impossível a assumir”, porque o rompimento de seu envelope formal coloca a céu aberto o que escapa à representação, à ação do pensamento (gedanken) e que permanece como um resto que Freud, no seu “Projeto ...” denominou de “a coisa” (das Ding). Em consequência, a angústia surge como sinal.

10.06.2020

Lacan, em seu percurso nos leva gradativamente a diferenciar o filosofar da “praxis” psicanalítica ao desenhar as diferenças entre o “penso” cartesiano e o “isso fala” freudiano. Sem deixar de frisar que o Cogito é um momento fundamental da história humana, posto que divide o sujeito num saber reflexivo e numa verdade recalcada. Lacan infere que Freud não inventa nem suprime o sujeito, mas se apodera dele ali onde o encontra, ou seja, no rebote da perspectiva cartesiana, que inaugura, depois de Galileu, a ciência moderna. Desta forma somos introduzidos à questão do sujeito tal como a psicanálise a subverte propriamente.

11.06.2020

Em outras palavras, é a partir do recalque originário, que trouxe como con­sequência a impossibilidade de um primeiro traço sofrer uma tra­dução, que se criou um pequeno intervalo entre os significantes que passaram a se ordenar a partir da história de cada sujeito. Esta ordenação não é aleató­ria e vai se sujeitar a uma estruturação que não é outra, senão a da linguagem. Isto é o que foi acres­centado ao legado freudiano: “o inconsciente é estruturado como uma linguagem” o que o autorizou a dizer que, “se o campo é freudiano, o inconsciente é lacaniano”

12.06.2020

Lacan, no seu retorno à Freud, se perguntou como poderia dar uma forma, formalizar isso que Freud chamou de atemporalidade do inconsciente. Para obter resultados foi à ciência que estuda as formas do pensamento. A lógica. Lacan pensou o tempo lógico antes do significante. Foi a partir do ponto em que ele, sabendo que o inconsciente é atemporal e que é estruturado a partir de um desejo indestrutível, pensou um tempo absolutamente particular: o tempo do sujeito do inconsciente, que é um outro tempo que não o cronológico. O trabalho do psicanalista talvez pudesse ser dito como sendo o de escutar alguém no seu tempo lógico para que ele possa tornar-se alguém no tempo cronológico. 

13.06.2020

Muitos sujeitos hoje, que apresentam o que chamamos de “novos sintomas”, diante da força unificadora da globalização, lançam mão de sintomas impermeáveis à intervenção do analista, na esperança de fazerem sobreviver uma singularidade ali, onde se está cada vez mais submetido às demandas de um discurso que tenta, de todas as formas, apagar a possibilidade da escolha e, consequentemente, do desejo.

14.06.2020

Gradativamente, durante seu ensino, Lacan vai nos levando a pensar o sujeito, não como uma “unidade” como quer a psicologia, mas como “sujeito do inconsciente” para dizê-lo sujeito da enunciação enquanto evanescente no enunciado, apenas apreendido na representação que lhe permite o significante.

16.06.2020

Seja qual for a vertente do sintoma que escolhermos, por um lado um “memorial de gozo” (o sintoma como metáfora), e por outro um “cativador de gozo” (o sintoma como função da letra), - até mesmo quando estamos falando da transferência como sintoma analítico -, vamos nos haver com um sinal de que alguma coisa não anda pois há um real que se coloca como uma pedra no caminho do sujeito: o real da privação que se explicita no fato de que homens e mulheres, desde sempre, estão privados do elemento que poderia propiciar a escritura da relação sexual.

17.06.2020

Em seu primeiro encontro com o Outro, consequência da incidência de um significante, o sujeito tem de lidar com um incurável, que não se subjetiva, que não permite que desejo e percepção coincidam. Ponto de opacidade e de silêncio, nos diz Lacan, que indica o lugar onde poderá se edificar a determinação significante capaz de escrever o fenômeno sintomático, na esperança de se “curar” a diferença que se instala na contingência deste primeiro encontro

18.06.2020

No Seminário XX, Mais Ainda, Lacan vai nos apresentar uma topologia para explicitar uma articulação entre gozo e sexualidade, uma vez que eles não poderão ser reduzidos ao orgasmo, seja masculino ou feminino. Uma articulação que encontra obstáculos postos em evidência pela psicanálise que afirma que “não há relação sexual”. Impasses que vão se resolver pelo recurso ao amor que vem ao lugar desta ausência. “O que vem em suplência à relação sexual, é precisamente o amor”. (S.XX, pag. 62)

19.06.2020

O sintoma, sendo a primeira mensagem cifrada, pleno de sentido, traz em si a cifra do gozo, que se apresenta como um ponto sem sentido.
Enquanto cifra, do gozo, o sintoma implica um endereçamento onde ele se decifra. Assim, de acordo com M. Silvestre, o que temos é: “de um lado, um sofrimento que o sujeito pode suportar com heroísmo estóico e sem dizer palavra. De outro, os portadores de sintomas que banham seu ambiente com eles, sem sofrerem eles mesmos absolutamente nada. Na medida em que os dois se conectam na mesma pessoa, isto pode produzir uma demanda de análise”.

20.06.2020

A queixa, quer dizer, a demanda, demanda de análise entre outras, e o sofrimento são duas coisas. Pode-se sofrer – mentalmente – e se recusar a qualquer queixa... Há uma distinção radical entre a queixa e o sofrimento. Ela é radical pois oferece uma escolha ao psicanalista: aquela de tratar a queixa ou de colocar em causa o sofrimento. (...) a queixa é uma fala, o sofrimento é uma paixão (...) o sintoma.”

21.06.2020

Podemos resumir a descoberta maior da psicanálise assim: no fundamento do nosso mundo, esse mundo ordenado pelos semblantes fálicos, não existem dois sexos, não existe uma mistura original, o que existe é a "não relação". Tal é o real da sexuação ao qual homem e mulher tem que se haver no encontro com o outro sexo.

23.06.2020

É pela via do saber que começa uma análise e neste começo está a transferência: o amor ao saber. Responder deste lugar de saber, no entanto, poderá produzir alguns efeitos, mas nunca uma análise. Por isso é importante distinguirmos a entrada em análise de seu começo, se quisermos dar conta desses alongamentos que se estiram sob o nome de uma análise, sem jamais iniciarem. Para que uma análise possa acontecer é fundamental a intervenção de um analista.

24.06.2020
J. A. Miller, em seu curso “Silet”, nos lembra que uma intervenção preciosa do analista é seu eventual ‘sem acordo’ (pas d’accord), pois no inconsciente não há a menor possibilidade de uma harmonia, muito menos de uma “negociação”, pois falta o significante que poderia estabelecer a proporção sexual.

25.06.2020

O objetivo do ato do psicanalista é desfazer o enlaçamento do Simbólico e Imaginário feito pelo sintoma aí mesmo onde, por estrutura, incide a falha na transmissão da castração. Esse é lugar aonde a fantasia se articula nos dizendo do desejo que a sustenta e do gozo que a mantêm. É neste ponto que uma passagem pode acontecer possibilitando ao “novo sujeito” que daí resulta efetuar um novo enlaçamento do Real, Simbólico e Imaginário.

26.06.2020

O Outro foi introduzido como uma forma de assegurar o ‘ao menos três’ da função simbólica. É no Outro que vai se manter o automatismo do simbólico, o ‘automaton’. É ele quem fala no lapsus quando o discurso se impõe à significação falha.

27.06.2020

A verdade, que se instala a partir da psicanálise está mais do lado do non-sens que do sentido, está na letra do inconsciente, nos dizendo da excentricidade de si a si mesmo, própria do sujeito, e que implica esta concepção e se explicita na fórmula: “ O inconsciente é o discurso do Outro”.

28.06.2020

Podemos dizer que um sujeito procura análise no momento em que se torna insuportável para ele sua divisão entre saber e verdade. Isto se dá no ponto aonde o deslizamento metonímico da cadeia significante se interrompe.

30.06.2020

A transferência, portanto, está no início do tratamento e se instala aí na tentativa mesmo de, atribuindo a um Outro o saber que falta, alcançar uma resposta que seja o saber último sobre esta sua verdade. É o Sujeito Suposto Saber que surge, fazendo valer um significante qualquer como aquele através do qual um sujeito poderia ser representado.

01.07.2020

Em seu primeiro encontro com o Outro, consequência da incidência de um significante, o sujeito tem de se haver com um real que não se subjetiva. Ponto de opacidade, nos diz Lacan, ponto de silêncio que indica o lugar onde poderá se edificar a determinação significante capaz de escrever o fenômeno sintomático, na esperança de se dar conta da impossibilidade que se instala na contingência deste primeiro encontro.

03.07.2020

“O Cogito é um momento fundamental da história humana, posto que divide o sujeito num sabe reflexivo e numa verdade recalcada ... Lacan infere que Freud não inventa nem suprime o sujeito, mas se apodera dele ali onde o encontra, ou seja, no rebote da perspectiva cartesiana, que inaugura, depois de Galileu, a ciência moderna” (Roudinesco, E., História da Psicanálise na França, vol II, pág. 324).

05.07.2020

No que diz respeito à interpretação, vamos delineá-la, com Lacan, como tendo a estrutura de “um saber entanto que verdade”, e se situando em algum lugar entre um enigma, que é o que podemos chamar de “uma enunciação da qual encarregamos que façam enunciado”, e uma citação, que colocamos como sendo “um enunciado solidamente apoiado no nome de um autor”.

07.07.2020
A fantasia do sujeito obsessivo demonstra o seu esforço na direção de manter intacto o Outro. Ainda que o desejo, que se constituiu na presença da falta de um significante,  esteja presente em todas  as  demandas.


08.07.2020

A liberdade, tão almejada, nunca passa de um sonho no horizonte de cada um dos seres falantes. Isto pode ser apreendido quando vislumbramos o fato de que a linguagem que nos constitui estabelece limites impondo sua sintaxe e estrutura ao mesmo tempo que nos diz da impossibilidade de se dizer tudo. Ha sempre um resto que permanece e que pode, quando possível, ser elevado à condição de causa de desejo.

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