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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Acting-out e Transferência – Uma produção do Inconsciente como resposta (II)

Pode-se diferenciar a Verneinung da Verwerfung e do Acting-out pelo sistema de conjuntos e lugares que o movimento de ir e vir demarca como diferentes a cada vez. 
Na Verneinung, p.ex. o objeto rejeitado pela negação desse rejeito, não retorna a seu ponto de partida: ele não reintegra o conjunto do qual foi ejetado: ele vai parar em outro lugar... Desta forma vai existir uma perda, irreversível, no retorno. A integridade dos retornos vai se estabelecer a partir do terceiro trajeto, como o terceiro que abre a repetição: aí se instala uma espécie de lançadeira sem fim, limitando um campo de acesso interdito, o campo dos objetos irrecuperáveis, irremediavelmente perdidos. 
Esse rejeito, na Verneinung, é devido ao julgamento, à escolha como ato do sujeito. A negação desse rejeito, a recuperação do significante, sua reintegração no campo significante do sujeito, será feita pela interpretação do analista: cassado, o significante será recuperado, mas, segundo a topologia, outro: outro porque está em outro lugar, portanto com relações modificadas. Em outras palavras, um significante sendo rejeitado de um campo que pode representar o próprio sujeito por sua própria cadeia significante, na sua complementaridade, vai retornar, tomar seu lugar na cadeia significante do sujeito, mas modificado.

Na Verwerfung temos uma rejeição, mas sem retorno. O significante rejeitado do campo simbólico sofre uma transformação tão radical que muda de categoria, de espécie. No campo de onde ele saiu, ele nunca retornará porque ele já se tornou outra coisa, manifestando-se no real. 

No Acting-out existe um lugar intermediário inapreensível: um elemento simbólico é rejeitado do nível da linguagem, que aparece transitoriamente fazendo uma aparição no real sob a forma de um comportamento inquietante, cênico. Ele representa, um real de teatro, pretendendo ser outra coisa diferente do simbólico. Ao terminar seu papel, ele deixa a cena do real onde foi montada pela necessidade e reintegra seu campo próprio, aquele do simbólico, dos significantes.
Esse retorno é efeito do papel do interpretante. 
Pode-se, eventualmente, qualificar o acting-out como um momento de loucura, mas que se diferencia da psicose, pois, mesmo que ele se determine de um ponto em que a fronteira do Imaginário do Simbólico e do Real foi atravessada, o sujeito não perde o seu bilhete de ir e vir. 


Do ponto de vista econômico

O acting-out é da ordem do "evitar a angústia": a angústia diante algo do Real que a falha do Outro deixou passar ao campo analítico. 
Quando o analista – por falha de uma interpretação que ali deveria acontecer, por uma passagem ao ato que o indica em posição de mestre, pelo desvelamento de um sintoma que o designa como sujeito, por um dizer que descobre seu próprio desejo – sai do discurso analítico – quando está fora (out) deste discurso – o analisando não pode permanecer ali sozinho e o segue: "out".

A interpretação selvagem, como uma forma de desprezar o saber analítico no que diz respeito a seus efeitos, é uma forma do discurso do mestre. O analista, neste caso, não sustenta o lugar de suposto saber e se lança na mestria transformando a situação em transferência sem analista: acting-out. Em outras palavras, quando o analista deixa este semblante e se confronta ao Real, o analisante vai pelo mesmo caminho na sideração e angústia: a histerização se torna necessária e impossível: o Real a interdita, o discurso se cala – é a angústia. 

O acting-out é o efeito do encontro com o (a): efeito de angústia que, mais além da linguagem, impõe a motricidade. 

A passagem ao ato, por sua vez, é o ultrapassamento da cena, cena imposta ou organizada pelo próprio sujeito: o ultrapassamento da cena em direção ao Real; imediato, não diferenciado como o acting-out, a passagem ao ato é tipicamente uma defenetração, ou seja, um salto no vazio.

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