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segunda-feira, 2 de março de 2015

Re-escrevendo a Metáfora Paterna (II)

Para além do Édipo, portanto, encontramos um operador estrutural: o pai real. O que é esse pai real? Lacan diz assim: "A ciência buscou esse pai real e encontrou o espermatozóide." O espermatozóide diz Lacan com todas as letras nesse capitulo: é o pai real. Só que ninguém vai dizer ser filho do espermatozóide X ou Y. Quando Lacan escreveu esse texto ainda não se tinha desenvolvido a pesquisa do DNA para se definir a paternidade, tanto é que o exemplo que Lacan busca é a pesquisa do fator Resus, do RH. Em outras palavras: a questão do pai real não pode ser localizada pela ciência. O pai real, esse que de alguma maneira efetiva a castração, a ciência não dá conta dele. Por isso Lacan vai poder dizer que este operador desloca o mito no que ele pode ter de psicológico, para estabelecer uma referência outra no que diz respeito à castração, quando ela é definida a partir do princípio do significante-mestre e da interpretação. O pai real é significante mestre. É aquele que produz o resto.
Isto se demonstra na própria estrutura do discurso chamado do Mestre, “onde a linguagem não obtém o gozo a não ser insistindo até produzir a perda onde o mais-de-gozar toma corpo".
A castração é função essencialmente simbólica, ou seja, concebida exclusivamente na articulação significante e a partir da própria definição de significante. Pois o significante não é aquele que se estrutura por uma diferença? Não é aquele que não pode ter igual? Um significante não se significa a si mesmo. Ele apenas representa um sujeito para outro significante. E é nessa articulação que a transferência vai apontar algo de real que se perde. É o resíduo. É um resto, - a frustração é do imaginário e a privação do real. Aqui se tem uma privação que se articula à castração a partir de uma perda imaginaria. Essa perda retorna pelo viés do imaginário, porque o objeto, nós só podemos acessa-lo pelo viés do semblante, do que parece, mas não do é. Lacan trabalha no Seminário da Angústia o estádio do espelho e porque que se faz do objeto "a" essencialmente uma imagem. Trata-se de uma tentativa de restabelecer a homeostase perdida no confronto especular quando se depara com esse objeto-resto que não é especularizável, que não tem um correspondente. 
O pai real, portanto, é aquele que faz um sulco, sulco que é traduzido na relação mãe-filho pela privação. Essa separação, estabelecida pela Lei do pai, diz para a mãe: "você não pode reintegrar o seu produto". Em outras palavras a castração se define como: “não se ter acesso à mulher". Essa privação da mulher é articulada no simbólico, e se estrutura na díade “Fort-Da” descrita por Freud como parte do 2º tempo do Édipo. 
A partir do que se demonstrou até aqui, pode-se dizer que o S1 é uma escritura que, ao promover a separação, abre a possibilidade para que uma interpretação aconteça. Somente a interpretação deste S1 - a castração - pode sustentar a ex-sistência de um sujeito.


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