Por onde caminharemos?

Dentro desta proposta de uma interlocução sobre a clínica lacaniana, proponho uma leitura detalhada e cuidadosa deste clássico de Lacan que é :  “A direção do tratamento e os princípios de seu poder”. Este texto, como indica o seu subtítulo, é um relatório  apresentado por Jacques Lacan no Colóquio de Royaumont, em Julho de 1958, há exatos 55 anos, portanto. Mais um motivo para revisitá-lo.
Uma leitura detalhada e cuidadosa vai nos exigir tempo, paciência e, fundamentalmente, perseverança.  A palavra perseverar, alias, tem uma sonoridade interessante se a tomamos no francês (língua a qual estaremos fazendo referência com uma certa regularidade por motivos óbvios): persévérer que na sua forma imperativa persévère pode ser desmembrada em pére sevère que se traduz como pai severo. E é, pois, como um “pai severo”, que persevera, que Lacan vai se dirigir aos leitores de seu legado teórico, exigindo de cada um “mais um esforço, se quereis ser (psicanalistas)” (Alusão ao título de um capitulo em A Filosófia na Alcova de Marques de Sade). É com este imperativo que se pode ler, na introdução a esses Escritos onde se encontra o texto em questão, a seguinte frase: “Queremos, diz Lacan, do percurso do qual esses escritos são as balizas e do estilo que seu endereçamento comanda, levar o leitor a uma conseqüência na qual será preciso que ele coloque aí algo de seu”. (Lacan, J. Ouverture de ce Recueil, in Écrits. Pag. 9)
Esta frase de Lacan começa a esclarecer-se quando encontra uma outra referência ao seu estilo de transmissão, no segundo parágrafo de um texto contemporâneo ao que estamos trabalhando: “A Instancia da Letra no Inconsciente ou a Razão depois de Freud”. Assim, nos diz Lacan: “O escrito se distingue, com efeito, por uma prevalência do texto, no sentido que se vai tomar aqui a esse fator do discurso,  o que aí me permite esse estreitamento que a meu ver não deve deixar ao leitor nenhuma outra saída que não seja a sua entrada, que eu prefiro difícil”. (Lacan, J. in Écrits. Pag. 493)
Então, para aqueles que já encontraram sua porta de entrada no texto de Lacan, continuemos nossa jornada. Para aqueles que estão batendo agora nesta porta sejam bem vindos e saibam que este trajeto é, propositalmente, difícil.