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terça-feira, 9 de julho de 2013

A Interpretação: Da Palavra à Escritura – IV

Vamos partir, hoje, da subdivisão quatro, onde Lacan se poupa, como ele mesmo diz, de fornecer as regras da interpretação. Não que elas não possam ser estabelecidas, pois ele mesmo as esboça neste texto, quando define, no final da subdivisão oito, que “segundo um processo que vai da retificação das relações do sujeito com o real (aqui no sentido de realidade), ao desenvolvimento da transferência, e depois, à interpretação, que se situa no horizonte em que a Freud se revelaram as descobertas fundamentais que até hoje experimentamos, no tocante à dinâmica e à estrutura da neurose ...”
Nesta subdivisão quatro, Lacan retoma uma afirmação que trabalha deste o início de sua transmissão – considero aqui este início 1953, com o texto “Função e Campo....” – “não há outra resistência à analise senão a do próprio analista”.
Ele vai explicitar pela dimensão dual à qual se reduziu a prática analítica na época dizendo das paixões do analista que impediam - e impedem, pois penso, como temos afirmado ao longo de nosso trabalho, que este texto tem sua atualidade – que a interpretação produzissem efeitos. Ele as numera na subdivisão cinco para dizer que o maior problema da interpretação é articula-la à transferência, pois existe entre elas uma antinomia. O que nos diz Lacan das paixões do analista que vem se colocar no caminho da interpretação: trata-se “de seu receio, que não é do erro, mas da ignorância; de sua predileção, que não é satisfazer, porém não decepcionar; de sua necessidade, que não é de governar, mas de ficar por cima.”
Esta resistência que se apresenta na relação da interpretação e transferência, Freud a havia captado e, certamente, nos ensinou como trata-la, no entanto podemos deslocar esta dificuldade para a antinomia que existe entre transferência e interpretação. Para tratarmos deste assunto é fundamental sabermos qual é o lugar da interpretação em relação à transferência. Mais uma vez ele se coloca em combate com as fórmulas apresentadas pela psicologia do ego que propõe que a interpretação seja adiada até que a transferência esteja instalada para depois subordina-la a redução da transferência. Isto só nos coloca a questão das aporias daí decorrentes: têm-se que esperar que a transferência se instale complemente para podermos exercitar a interpretação, por outro lado não se interpreta porque a transferência já se instalou e é preciso reduzi-la para poder interpretar. A saída que a “Ego-Psychology” propunha era um trabalho intenso de perlaboração da transferência onde um excessivo forçamento imaginário apontava para re-conectar o sujeito com a realidade circundante. Era assim que o analista se via protegido na transferência e ocupava um lugar de onde poderia acossar os pacientes com seus acting-outs e proibindo-lhes uma série de coisas e transformando a vida deles em um verdadeiro pesadelo, onde o analista se fazia presente em cada esquina. O que Lacan propõe é um trabalho onde o simbólico se sobreponha ao imaginário. Mais uma vez vale relembrar que nesta época Lacan se empenha na supremacia do simbólico sobre o imaginário e o real.

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