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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Sobre o Sujeito Suposto Saber

Hoje vamos tratar o conceito de Sujeito Suposto Saber. 
Conceito considerado por Lacan “pivô da transferência”. Não sei se podemos localizar precisamente quando Lacan utiliza este termo pela primeira vez, mas no Seminário “A identificação” Lição de 15 de novembro de 1961 ele vai empregar essa expressão Sujeito Suposto Saber. Este momento do ensino de Lacan ainda está sustentado nos parâmetros que costumamos chamar a primeira clínica ou clínica da prevalência do Simbólico. No entanto, já se percebe a preparação do campo do objeto “a” ao trabalhar o traço unário e a sua incidência na constituição do significante. No Seminário X, no ano seguinte, veremos o objeto “a” surgir com o estatuto que será consolidado no Seminário XI: enquanto um resto de gozo, consequente à operação significante.  
Cito aqui a passagem da lição do Seminário IX:
“É que nunca houve, na linha filosófica que se desenvolve a partir das investigações cartesianas chamadas do 'cogito', nunca houve, senão um só sujeito que prenderei com alfinetes, para determinar sob esta forma: o sujeito suposto saber. É necessário que dêem a esta fórmula uma ressonância especial que, de alguma forma leva consigo sua ironia, sua pergunta, e observem que ao referi-la à fenomenologia e, particularmente, à fenomenologia hegeliana, a função desse sujeito suposto saber toma seu valor de ser avaliado quanto à função sincrônica que se desdobra neste propósito: Sua presença sempre ali, desde o começo da interrogação fenomenológica, em um certo ponto, em um certo nó da estrutura, nos permitirá deduzir do desdobramento diacrônico suposto levar-nos ao saber absoluto.”
Depois vamos vê-lo referir-se novamente ao “Sujeito Suposto Saber” no Seminário XI, já no tempo do Real e do objeto pequeno “a”, ou seja, já dentro do novo parâmetro que define a segunda clínica ou Clínica do Real.  Lacan dedica a este tema toda uma lição, (XVIII) onde nos diz que a “transferência é um fenômeno essencial, ligado ao desejo como fenômeno nodal do ser humano, que foi descoberto antes de Freud”. Em seguida, neste capítulo que menciono aqui, ele faz referência ao “Banquete” de Platão para repetir o que disse Sócrates quando afirmou “que nunca pretendeu saber, senão o que é de Eros, que dizer, do desejo”. E, finalmente, “desde que exista em algum lugar o Sujeito Suposto Saber, existe a transferência. (...)  Cada vez que esta função pode ser, para o sujeito, encarnada em quem quer que seja, analista ou não, ela resulta da definição que acabo de lhes dar sobre a qual a transferência já está fundada”.
No texto “Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o Analista da Escola”, ele vai matemizar a transferência destacando a função do Sujeito Suposto Saber: Depois de fazer um longo percurso que passa por Descartes, Hegel para quem "a verdade coloca a impossibilidade da coexistência das consciências, na medida em que se trata do sujeito prometido ao saber...", e Sartre onde o inferno é o outro, Lacan conclui dizendo que:  “O sujeito suposto saber é, para nós o pivô de onde se articula tudo o que é da transferência”.

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