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quarta-feira, 17 de abril de 2013

A lógica do significante e a função do objeto.

A lógica do significante é indispensável para se pensar o lugar do analista e a função do objeto na direção do tratamento. Exatamente, por que? Porque a partir da lógica do significante se estrutura esse discurso que Lacan nomeou, o discurso do mestre, o discurso do inconsciente, o discurso que diz da fundação do sujeito. É a partir então, dessa lógica que foi possível a Lacan, a partir de Freud, formalizar o discurso do analista não como uma inversão do discurso do Mestre, mas como conseqüência de uma torção nesse discurso, de maneira tal que se passa de um ao outro como se passa de um lado ao outro de uma superfície sem que haja solução de continuidade.



Faço referencia aqui a uma figura topológica que é conhecida de grande parte de vocês: banda de Moebius, que nada mais é do que uma tira na qual se cola as pontas após submete-la a uma meia torção. Pode-se percorrer um lado dessa banda e chegar ao outro sem tirar o dedo da superfície. É uma banda, que tem apenas um lado e uma só borda. Em outras palavras não há corte entre um discurso e outro.


Estando de posse destes conceitos e da lógica que os articula foi possível, para Lacan estabelecer que a tal neutralidade analítica nada mais era do que uma máscara que acabava por proporcionar ao neurótico uma identificação imaginária com o objetivo de escamotear a castração, tanto do analisante quanto do analista. É desta forma que ele vai, ao longo deste texto “A Direção do Tratamento” e dos que a ele se seguem estabelecer as vias pelas quais acontecem as destituições subjetivas e o de-ser do analista a partir mesmo do enlaçamento que os sustenta na fantasia fundamental.
Como se pode perceber estamos levantando questões sobre o final de análise que serão tratadas ao longo de nosso percurso. Menciono estes pontos para lembrar de dois outros, muito importantes, que foram modificados pela prática lacaniana: em primeiro lugar a suspensão de todo e qualquer contrato didático nos institutos de formação e em segundo lugar fazer acessível ao publico os resultados da efetuação de um final de análise através do dispositivo do Passe. Com o dispositivo do Passe pode-se esclarecer que uma adaptação à realidade está longe, muito longe de acontecer e que o final implica em uma ética que leva em conta o Real. Em outras palavras, o ato sempre supera a seu agente, exigindo que se esteja sempre a altura do fato de que, cito Lacan: “o cúmulo do sentido, (...) é o enigma”, mas não se pode esquecer também que “uma mensagem decifrada pode permanecer um enigma”.
Essas duas frases, duas pequenas citações eu retiro de um texto precioso de Lacan: ”Introdução à Edição Alemã dos Escritos” (Lacan, J. - Introdução à Edição Alemã dos Escritos, in Outros Escritos). Lacan joga por terra toda e qualquer possibilidade, como muitas vezes se acreditava, de que o final de análise pudesse estabelecer um amor genital, promover a completude de um encontro apaziguador. Afastar definitivamente toda e qualquer possibilidade de angústia. Acreditava-se nisto por pensar que a mensagem - o sintoma enquanto uma mensagem a ser decifrada – pudesse ser decifrada e, uma vez decifrada, ter-se-ia acesso a verdade toda. Tudo estaria esclarecido. No texto “A direção...” encontramos uma crítica de Lacan às formas como se tentou “levar o sujeito a uma visão (insight) de suas condutas (...) por ser um dizer esclarecedor” (Lacan, J. - "A Direção do Tratamento ..., in Escritos). O que encontramos, em contrapartida é bem diferente porque uma mensagem decifrada continua sendo um enigma. E ainda bem que assim o é, pois, senão, o desejo estaria morto.

Um comentário:

  1. Muito bom, muito esclarecedor! Sempre achei estranho o fato de no final de uma análise encontramos o Nirvana. Se fosse assim melhor seria seguir Buda a Lacan!

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