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quinta-feira, 2 de maio de 2013

Ainda a topologia do Grafo do Desejo.

Continuando nosso comentário sobre o Grafo do Desejo, percebe-se que essa volta no andar superior faz uma retificação na teorização psicanalítica que não dava o devido valor à demanda do Outro. Acreditava-se no evolucionismo das fases oral, anal e fálica, acreditava-se que o próprio desenvolvimento promovia a sucessão das fases e o consequente investimento neste ou naquele objeto. Com Lacan pode-se saber que o sujeito abandona o prazer oral, o gozo oral e o substituí pelo gozo anal, por exemplo, porque aconteceu uma demanda do Outro que deslocou o objeto de gozo. Tem um fio condutor que se sustenta na demanda do Outro.
Observamos que Lacan não toca a questão da libido nesse texto da "Direção...". Ele a retoma depois, quase como um pedido de desculpas, no texto "A Posição do Inconsciente", quando trata a questão da libido de uma forma muito interessante construindo a idéia da "lamela". Lacan também não fala em pulsão nesse texto, mas escreve: a demanda do Outro e deixa entrever que é a demanda do Outro que vai fazer valer a pulsão. Por isso, quando você age com o "ser de analista", promove uma passagem que coloca o sujeito em relação com a demanda do Outro ($<>D). Por que isto acontece? Porque ao agir com seu ser, o analista vai levar o sujeito a experimentar o que Lacan chama de desamparo (d). Essa experiência faz toda a diferença. Ela marca, de alguma forma, uma entrada em análise. Esta vivência do desamparo diz que o sujeito pode abrir mão dos significantes do Outro que o ampararam até então E, consequentemente, defrontar-se com as demandas do Outro sem as interpretações que o faziam crer que soubesse como se garantir aí. Assim Lacan escreve esta passagem: um encontro com "Che Voui?". Com o “que queres?” implícito em toda demanda. Lacan retira essa expressão, "Che Voui?", do texto “O diabo enamorado” de Jacques Cazotte. O "Che Voui?" ocorre quando um sujeito resolve invocar o diabo para fazer uma série de perguntas sobre como encontrar uma mulher. Ele vai a um lugar especial onde tem uma cisterna, prepara um ritual e invoca o diabo. O diabo surge do fundo da cisterna e pergunta Che Voui? Esse diabo tem cara de carneiro com grandes orelhas e ele se encarna como uma mulher, em seguida.
A consequência deste encontro é desenhada no Grafo, do lado oposto ao encontro com a demanda do Outro, como significante da falta no Outro ($(A/). Aí, neste ponto do grafo, Lacan vai colocar o Gozo e do lado da demanda está a castração.
O encontro com essa falta no Outro e a consequente quebra das garantias leva o sujeito a se arranjar com uma interpretação. Sim, porque ele vai tentar identificar-se com o que ele interpreta ser o que falta ao Outro. Ele vai estruturar uma relação com o objeto que ele acredita ser o que o Outro deseja. Por isto Lacan dizia que "o desejo do homem e o desejo do Outro".
Esta estrutura é da fantasia fundamental ($<>a). É a formula da tela protetora que fornece ao sujeito um pouco de realidade filtrando o gozo e aponta um objeto causa de desejo, ao mesmo tempo que pode sustentar um sintoma S(A), que é a forma como um sujeito pode se haver no mundo.

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